26 de set. de 2005

A nova realidade dos CIEPS: parte I

Quem vive no Rio de Janeiro sabe que o CIEP foi uma criação de Leonel Brizola, em seu primeiro mandato, se não me engano lá pelos idos de 82, visando o horário integral com assistência médica, esporte e educação. Ao longo da rodovia Rio-Manilha, por exemplo, é possível ver pelo menos uns seis ou sete. Há CIEP pra todos os lados do Estado. Os professores precisam agradecer ao ex-Governador em suas orações. Graças a ele haverá trabalho por um longo tempo, pois não há como preencher todas as vagas através de concurso público. Sempre teremos contrato e dobra de horários para os concursados. Talvez seja por isso que a Governadora Rosinha decidiu mudar o nome, já publicado no Diário Oficial, para "Brizolão". Isso mesmo. Hoje o CIEP é reconhecido pelo Estado como Brizolão. Faz sentido... Não existe mais horário integral, falta cópia para os professores, todas as escolas têm problemas graves de acústica (como as paredes são baixas, os professores, ao discursarem em sala de aula, têm cerca de 50% da voz emitida dispersa, uma vez que não há barreira que possa impedir tamanha dispersão da voz. Resultado: o professor precisa sempre aumentar o tom da voz para que o aluno que está no final da sala possa escutá-lo). Problemas da construção? correto, porém pouco ou nada foi feito até hoje... (continua)

20 de set. de 2005

Jeanette Winterson: Inscrito no corpo

Foi para mim uma surpresa agradável ler Inscrito no corpo, da editora Rocco, acho que um dos primeiros livros publicados por aqui de Jeanette Winterson, autora inglesa. Fiquei curioso, após sua passagem meteórica na FLIP ( Feira Internacional Literária de Paraty) deste ano, no Rio de Janeiro. Ativista política, simplesmente convidou a todos para fazer um protesto contra a Petrobrás (na época a Petrobrás estava para fazer algumas operações próximas a Paraty que iriam, segundo a opinião dos ambientalistas, degradar o meio-ambiente). Baixinha, mas com um discurso de gigante, não somente participou mas, pelo que li, foi uma das apresentações mais interessantes do evento. Quando passei na Biblioteca Municipal do Engenho Novo, estava lá o livro de pouco mais de 170 páginas, convidando-me para a leitura. Trata-se de um romance muito interessante. Procura retratar sobre as nuances do amor no nível mesmo do corpo fisiológico, no que tem de original. Na verdade, em muitas passagens há o misto de ensaio com o discurso científico sobre a natureza do amor,flertando também com outros gêneros literários como o conto, a partir de um triângulo amoroso: uma mulher casada, seu amante e um marido frio e distante com uma voz narrativa bissexual, sob a ótica do amante. Achei engraçado que no texto de apresentação do romance, somos levados a crer que exista mais de uma voz narrativa que ora se apresenta masculina, ora , feminina. Nada disso. Uma voz somente que se apresenta bissexual, talvez reflexo (sem querer empobrecer o romance, longe disso) da natureza sexual da própria autora, assumidamente bissexual.
Quem quiser conhecer mais sobre a autora pode acessar a página pessoal: www.jeanettewinterson.com

16 de set. de 2005

Vendaval de informações e Lúcia Hipóllito

Quem lê o blog do jornalista Ricardo Noblat ( http://noblat.ultimosegundo.ig.com.br/noblat/) recebe a notícia fresquinha sobre a política nacional. Como estamos em crise, ler todos os detalhes, o disse-me-disse, acompanhar as CPIs, tem sido difícil. Mas é aí que entra a comentarista política Lúcia Hipóllito. Ela faz a análise brilhante, objetiva e sempre direto no olho do furacão. Ler a coluna dessa brilhante cientista política é um prazer. Foi a maneira que encontrei para escapar de vendaval de informações. Além de participar do blog, parece-me que ela também participa de uma mesa redonda no Programa do JÔ, na Rede globo, às quartas-feiras, junto com outras comentaristas, para discutir a crise.

12 de set. de 2005

Briga de vira-latas

Ficou claro que Severino Cavalcanti não vai deixar a presidência. Vai resistir ao máximo. A partir de sua entrevista sofrível (dei bastante risadas quando ele pedia para que os jornalistas publicassem boas notícias sobre a coletiva!!). Que coragem! Este homem era digno de uma personagem de Machado de Assis. Tamanha empáfia com as palavras, assimetricamente destoante com os atos que o conduziram para aquele desfecho, nos permite dizer que teremos uma bela briga de cachorros vira-latas na Câmara dos Deputados. Não quis ofender os cachorros, os vira-latas, mas é a imagem que surge em meus pensamentos. Talvez devesse apostar no bicho, melhor, no cachorro. Porém não sei se o pobre animal é parte na constelação da ilegalidade junto com tantos outros...

11 de set. de 2005

Formação do leitor: bibliografia

Trabalhei por quase dez anos com comunidades carentes. Trabalhei com idosos, adultos, jovens e crianças sempre enfatizando o papel da leitura e da língua portuguesa. Ao longo desses anos formei uma pequena lista de livros que me ajudaram, formaram o meu mundo. Num outro momento descreverei sobre minhas experiências com as comunidades e com o governo, seja na esfera municipal, estadual e federal. A pedido do meu amigo Henrique, elaborei uma lista para um curso, creio que para contadores de história, para formação de agentes de leitura.
ECO, Umberto. Seis passeios no bosque da ficção. São Paulo: Companhia das Letras. 1994.
CHARTIER, Anne Marie e HEBRARD, Jean. Discours sur la lecture (1880-1980). Paris: Centre Georges Pompidou, 1991.
CHARTIER, Roger & CAVALLO, Guglielmo (orgs.). História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, (liv.1), 1998.
FOUCAULT, M. A Ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.
LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. A Formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996.
OLSON, David. O Mundo no papel: as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita. São Paulo: Ática, 1997.
OLSON, David R. e TORRANCE, Nancy. Cultura escrita e oralidade. São Paulo: Ática, 1995.
PROUST, Marcel. Sobre a Leitura. Campinas, 1990.

PENNAC, Daniel. Como um romance. Ed. Rocco

Ver os sites:

http://www.leiabrasil.org.br/publicacoes_livros.htm


http://www.unicamp.br/iel/memoria/

e autores como Fanny Abramovich e Ezequiel Theodoro da Silva

10 de set. de 2005

Os negociadores da mentira

Estamos conhecendo dois: Severino Cavalcanti e José Dirceu. O primeiro irá negar, negar e negar, três vezes, para que a mentira torne-se verdade, buscando, enfim, um sopro de vida e continuidade do mandato à frente da Câmara dos Deputados. O segundo, mais sinuoso, esgueirou-se através do silêncio para negociar pequenas falhas jurídicas, pontos de tensão, para, enfim, buscar um mínimo de redenção. Um verdadeiro paradoxo para quem um dia almejou a presidência ou talvez nem isso, mas estar ao lado do poder, ser uma espécie de voz da consciência, um arremedo do grilo falante. Ambos irão negociar as mentiras até o fim, como num jogo de pôquer, vão usar todas as cartas, todos os artíficios. Uma aula de política mesquinha e pequena.

9 de set. de 2005

Sombras da morte em "A queda! Os últimos dias de Hitler"

Fiquei impressionado com o filme. Bruno Ganz interpreta Hitler com um vigor e temor que nos choca. Porém chocante mesmo é o suicídio, a sombra da morte que percorre por todo o filme, e o ato patético em si, pelos olhos de quem idolatrava Hitler, arruinado, Eva Braun alucinada, ambos negando veemente a realidade que os permeia: a guerra acabou, tudo foi destruído, todos os sonhos de grandeza. Seus generais completamente aturdidos, entregues aos delírios do álcool e aos impropérios do Füher. O suicídio, como ato final dessa loucura que foi a 2ª Guerra Mundial, surge carregado de alívio, enfado, temor e com um peso niilista que esmaga e sufoca quem assiste ao filme. A negação da esperança com o assassinato dos filhos de Goebbels, perpetrada pela esposa, num ato de louvor ao Nazismo foi, para mim, terrível. Assim como o garoto, jovem soldado que recebe uma medalha do Füher por ato de bravura, que percebe, ao ver os amigos mortos, seus companheiros de infância e de luta, despe-se do manto da guerra e retorna ao lar com uma espécie de filho pródigo. E por tratar-se de uma loucura, tem os pais mortos pelos próprios soldados alemães, caminhando para um mundo sem sentido. Sente-se no corpo decadente de Hitler o ódio não mais por judeus, mas por toda a humanidade como a derrocada final. O filme segue a trama aos olhos da jovem secretária de Hitler. Aliás, inicia-se o filme com o depoimento da secretária nos dias atuais e encerra-se com um mea culpa honesto e sensível, de quem, deslumbrada com o mundo e a curiosidade juvenil de estar no centro da história, ao trabalhar com o ditador, não se apercebeu da violência e do banho de sangue, inadmissível em sua própria opinião, que manchou para sempre a Alemanha.

8 de set. de 2005

O espetáculo da seleção brasileira

Não tenho dúvidas de que hoje a seleção só perde para ela mesma. Não importa nem se vai jogar com os quatros (carinhosamente chamada de “Quarteto Fantástico”) ou os cinco. Simplesmente não há adversário que tenha o mesmo plantel (palavra interessante essa) que o nosso time. Concentrada para uma partida, como a que realizou com o Chile, deverá esmagar os times inferiores (ainda existem) em poucos minutos e descansar ao longo da partida. Como no auge das lutas do Mike Tyson. Queriam espetáculo? Em segundos, Tyson destruía seus inimigos. Não havia tempo para isso. Espetáculo somente nos primeiros filmes de Rocky, estrelado por Silvester Stallone. Com a seleção teremos espetáculo até os 40 minutos do primeiro tempo. Depois de morto o inimigo, como nas grandes batalhas, o repouso do guerreiro ao longo do segundo tempo. Hoje o maior inimigo é a vaidade e a presunção. Na imprensa há o comentário de que esta é a melhor seleção de todos os tempos. Ainda não. Para mim, foram três: a de 70, que nunca assisti (ainda era um projeto de vida), mas percorre todo o imaginário dos brasileiros e estrangeiros (vide a homenagem que o diretor britânico Ken Loach realizou no filme “Meu nome é Joe”) com uma vitalidade impressionante; a de 1982, assistida, e que até hoje me emociona; a de 2002, que daria um belo filme com a seguinte sinopse: seleção desacreditada, com o ídolo Ronaldinho tendo que provar para si mesmo e para o mundo a sua recuperação, supera todas as adversidades em um belíssimo campeonato. Fosse um esporte consagrado nos EUA, Hollywood já teria filmado. Aguardemos a Copa do Mundo, portanto, o apito para o início do jogo. Nesse momento da partida, o ponto zero, a verdadeira batalha não será mais travada no campo mas na mente dos jogadores.

5 de set. de 2005

Katrina e o verniz da Humanidade

Duro ver New Orleans arrasada pelo furacão Katrina. Tira-nos a certeza de que, definitivamente, não há lugar seguro no mundo. E temos que conviver com a incerteza do mundo que o Capitalismo tanto escondeu e lutou para disfarçar através de suas falsas benesses. Pior ainda foi saber que, através dos estupros, saques, falta de segurança na cidade, suicídios, tantas e tantas mortes caiu o verniz da humanidade. Sim, bastou arrancar o mínimo de vestígio civilizatório para vermos a bestialidade do homem. Ser humano ainda é uma utopia. Para ver como vai acabar tudo isso recomendo a leitura do romance de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, Companhia das Letras. Não ocorre a fúria de um furacão no livro, mas uma crise de valores, na minha opinião, idêntica. Também acredito que os orientais tenham muito para nos ensinar, sobre como nos comportar diante de uma tragédia como essa, haja vista a destruição provocada pelas monções, todos os anos.

1 de set. de 2005

Descobrindo Balzac

Nunca tinha lido Balzac. Comprei um livro do autor no original, La Maison du Chat-qui-Pelot, para manter em dia o meu francês, na verdade, quero melhorar meu domínio sobre o idioma (rssss). Deparei-me com uma história de vida interessante: o escritor foi uma verdadeira máquina literária, uma produção de causar inveja a qualquer um, sofreu por um amor que só pôde ser consumado já perto de sua morte; e mais, procurou sempre defender a mulher da opressão da sociedade, baseado no convívio com suas irmãs, mais especificamente Laurence. Tem sido uma leitura difícil, junto com dicionário, sempre, mas bastante prazerosa. Chama a atenção do leitor o papel da descrição no texto de Balzac. A descrição das roupas dos personagens, nos mínimos detalhes, por exemplo, estão associadas a características psicológicas, como num corpo só. Difícil separar o físico do psicológico. Autores contemporâneos não fazem isso. Poucos trabalham com a descrição, buscando a palavra certa, com o objetivo de traçar uma característica. Muitos vão dizer que hoje o romance moderno jogou a descrição, técnica de produção de texto, para escanteio. Importante a sugestão, a cortina de fumaça. Concordo. Mas ler Balzac, até o momento, tem sido também uma lição de técnica literária. Nada está solto no texto. Aliás, como disse Autran Dourado, o escritor precisa conhecer as palavras comuns, dominar o substantivo que dá nome ao mundo, na minha opinião, descrever, descrever, descrever...