5 de mar. de 2007

Peripécias com Memórias póstumas de Brás Cubas

Volta às aulas, uma amiga que sempre me ajudou com a burocracia dos diários de classe me pede ajuda: o romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, para a filha, que está no terceiro ano e precisa fazer um trabalho. De imediato disse que sim, porém que vasculhasse primeiro na biblioteca da escola. Não havia mais na biblioteca... Procurei na minha. Achei que tivesse uma edição simples para emprestar. Tenho somente um que faz parte de uma coleção de trinta e um livros, obra completa de Machado de Assis, da W. M. Jackson Inc. Editores, de 1957, por sinal muito bem conservada. Nossa... Emprestar um livro de 1957, capa dura, maravilhoso, para uma adolescente, que já soube não é fã de leitura, é inviável. Tive medo que perdesse ou rasgasse e depois me desse, a título de compensação, um exemplar da editora Ática, para estudantes secundaristas. Pedi um prazo, para comprar outra edição, sem que a mãe soubesse. Busquei no Méier, bairro zona norte do Rio de Janeiro, perto de onde moro, e nada encontrei. Não há sequer uma livraria, muito menos um sebo. Há dois anos atrás havia uma livraria, Sodiler, na Dias da Cruz, principal rua do bairro. Há seis anos atrás, havia dois sebos, muito bons. Hoje há o Gibicenter, outrora bom sebo que parece estar rumando para falência. Sem tempo, fui procurar no município em que trabalho, Itaboraí, a nova Canaã, haja vista a refinaria que a Petrobrás deve montar nos próximos anos. Nenhuma livraria. Nenhum sebo. um deserto para um leitor um pouco mais refinado. E mesmo comum. Terei que voltar ao meu paraíso particular de sebos na minha adolescência; o entorno da praça Tiradentes, centro do Rio de Janeiro. Lembro que passava algumas boas horas naquelas ruas, Regente Feijó, entre outras, passeando pelos livros, tentando encontrar alguma peça rara por uma ninharia. Nunca vou me esquecer de um sebo, que mais parecia um corredor, com uma senhora negra e gorda ao fundo com um enorme gato sempre vigiando. Cada vez que adentrava dava pra sentir o cheiro forte de mofo, dava pra perceber o ar denso... Como ela conseguia respirar ali, Meu Deus? ela ficava o tempo todo lá atrás; conhecia, no meio daquela montanha de livros, a ordem que estabelecera para os assuntos. Preciso encontrá-la novamente. Faz quinze dias e ainda não encontrei uma edição simples para comprar e emprestar à adolescente,sem que a mãe perceba. Às vezes sinto que deveria ser menos mesquinho e emprestar a tal edição. Mas o que farei com o medo de perdê-la?