3 de jun. de 2005

Os ensaios de Joseph Brodsky

Joseph Brodsky é um poeta russo, vencedor do Nobel em 1987, morreu em 1996, nos EUA, país que adotou, inclusive a língua. Conheci-o através de seus ensaios, ou melhor, do livro de ensaios Menos que um, da Companhia das Letras, em 1995, numa resenha da Veja, escrita por Diogo Mainardi, o "Mini-mim" do finado Paulo Francis. Por que estou dizendo isso? Levei quase uma década para ler este livro. Lembro que naquela época comecei a ler e me senti perdido, com a sensação de que as palavras estavam ali, porém eu estava um tanto quanto distante. Achei melhor dar um tempo e o tempo foi nos aproximando novamente. Boa parte dos textos falam de uma Rússia que não existe mais, talvez seja interessante para um historiador, não para mim. Todavia restaram os textos literários que, sempre que possível, irei relê-los. Cada linha de texto desse autor guarda um impacto, uma grandeza de pensamento que até hoje surpreende-me. No ensaio " Catástrofes no ar", Brodsky comenta sobre as duas divisões que na literatura russa surgiram após Tolstoi e Dostoievski, de como este deixou marcas profundas e o outro serviu de molde para toda uma geração, no que agradou, e muito, ao comitê soviético. De quebra, narra o panorama literário até a década de 80 ( os ensaios, em sua maioria, são dos anos 80). Não bastasse isso, discute também a arte literária, os caminhos que aos escritores se apresentam. Não quero descrever mais. Vou destacar uma passagem como exemplo:
"Existem, grosso modo, dois tipos de homens e, da mesma maneira, dois tipos de escritores. O primeiro tipo, sem dúvida a maioria, considera que a vida é a única realidade de que dispomos. Transformada em escritor, essa pessoa irá reproduzir esta realidade nos seus mais ínfimos detalhes... Fechar seu livro é como chegar ao fim de um filme... O segundo tipo, a minoria, percebe a sua própria vida, e a de qualquer outro, como um tubo de ensaio para certas qualidades humanas, cuja manutenção sob pressão extrema é crucial para uma versão eclesiástica ou antropológica do advento da espécie. Como escritor, um homem deste tipo não mostrará muito em matéria de detalhe; em vez disso, vai descrever os estados e as guinadas da psique de seus personagens com tal profundidade que você agradece por nunca tê-lo conhecido em pessoa. Fechar seu livro é como acordar de manhã com o rosto mudado." (pág. 112)
Há muitas e muitas passagens que valem uma releitura para novas descobertas. Fico apenas imaginando como deve ser o trabalho poético deste autor...

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