3 de set. de 2006

As artimanhas de "Re[corte] cultural"

Para quem não conhece, o programa de televisão da Tv aberta TVE, Re[corte] cultural, apresentado por Michel Melamed, é uma das boas surpresas no deserto da televisão aberta brasileira. O programa é um espetáculo de edição de imagens que lhe confere um ar pós-moderno, um olhar fragmentado fascinante. Há sempre duas ou três entrevistas em locais diferentes que não seguem linearmente, mas intercalam-se, criando uma nova leitura, algo lúdico que faz falta aos demais programas desse gênero. Existem referências claras, ao longo do programa, das possibilidades que a poesia concreta ofereceu, por exemplo, verdadeiras interferências na tela, na imagem. No quadro "debatedeira" (veja a brincadeira com o nome...), Melamed se preocupa em quebrar expectativas que se desenham para uma entrevista colocando o entrevistado à prova, em situações inesperadas, como pular da cadeira, tomar uma cachaça, dirigir alguma cena, na hora; isoladas, ditas de modo aleatório, pode parecer estranho, porém condiz com o ritmo das entrevistas, do espírito lúdico do programa. Isoladamente, tais detalhes que caracterizam o programa não são novos. Todavia é a mescla, e ,repito, a edição, artimanhas as quais podemos acrescer, talvez o grande trunfo (quem não se lembra do jogo "super trunfo"?) seja o fato de que Michel Melamed não é um apresentador per si; ele é um artista no comando das entrevistas, com a mesma verve de Abujamra no também ótimo "Provocações". Aliás, Melamed encarna um pouco o sonho de Abujamra, "dêem aos artistas um horário vago na televisão e você verá algo novo nascendo..."

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