27 de nov. de 2006

Memórias e noites: o livro de contos de Marcelo Moutinho

O livro de contos, Somos todos iguais nesta noite, de Marcelo Moutinho, se destaca pela delicadeza extraída a partir de situações aparentemente banais, sobretudo na primeira parte, "Iguais". Neste conjunto, é possível perceber elementos de uma memória social que pontuam cada um dos contos, lembrando, em muitos momentos, trabalhos acadêmicos como Memória e sociedade, de Ecléa Bosi. Convém destacar que o livro de contos não somente resgata, mas partilha com o leitor; o título (tirado de uma canção, creio eu), muito feliz, nos envolve na construção das tramas: "somos todos iguais...". Na segunda parte, "Noites", há um pouco do elemento fantástico, algo do realismo mágico, porém sobressai temas que muitas vezes, são ou foram agregados ao mito da "noite", como, por exemplo, a solidão, o mistério, entre outros. Tal título, da segunda parte, não agrega uma experiência singular, antes diversifica. A singularidade ocorre no termo "nesta", no título do livro, momento único em que autor e leitores agregam-se sob o manto indefinido da memória e do noturno. O melhor conto do livro que traduz todas essas possibilidades aqui destacadas, em minha opinião, é "Rosa noturna". Também gostaria de pontuar o conto "Desfile", não somente pelo tema do carnaval (e sobre carnaval e literatura temos pouco), mas principalmente pela construção dos diálogos, que permitiu uma fusão entre forma e conteúdo bem elaborada. Quem acompanha o trabalho de Marcelo Moutinho percebe o crescimento e o amadurecimento literário em Somos todos iguais nesta noite.

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