24 de mar. de 2006

Ferreira Gullar e o programa Gerações

Hoje o melhor canal de tv aberta é a TVE. Nos últimos anos, melhorou bastante. Há espaço para todas as áreas (cinema, literatura, dança, música, política) e os programas primam pela qualidade. Mas há um programa que fica notório, em vários momentos, um certo incômodo. É o programa "Gerações", do Sistema S (SESC, SENAI E SESI), veiculado na emissora, sábado, às 16:00h. Quem apresenta é o poeta Ferreira Gullar. Cada programa é sobre um assunto específico e, às vezes, se desdobra em dois. Eu não trabalho com televisão, sou apenas um espectador talvez um pouco mais curioso que a média. Quando não é um assunto que o poeta, e agora apresentador, não domina, o que é normal, ninguém tem obrigação de saber tudo, fico na espectativa de que não aconteça algum mal estar no momento da entrevista. Ferreira Gullar olha para aquelas fichas de pergunta, tentando decorar, não sei, e questiona o entrevistado. Neste momento, a câmera abre para os dois, entrevistado e entrevistador, e quanto o sujeito responde é possível ver o poeta olhando novamente para as fichas, tentando emendar imediatamente uma nova pergunta. A sensação que passa é a de que ele não ouve a resposta porque está preocupado em dizer a pergunta seguinte. Às vezes fica pior: interrompe o entrevistado para outra nova pergunta, enquanto arruma aquelas fichas a todo momento, como se estivesse perdendo a seqüência de perguntas, a conversa torna-se quase um ato mecânico quando deveria soar natural. E, para piorar, a edição corta o final das respostas de vários entrevistados, numa tentativa de ordenar, segmentar as perguntas do entrevistador. É tão notório que eu, um mero espectador, consigo perceber. Ferreira Gullar, para mim, é o maior poeta brasileiro vivo da língua portuguesa ( ele, Carlos Drummond, João Cabral e Manuel Bandeira são os Quatro Pilares da poesia nacional - minha opinião). Como apresentador, sairia muito melhor se o seu programa fosse apenas sobre estética e , mais especificamente, literatura. Tenho certeza de que se sairia melhor. Mas com as falhas (ele mexe e remexe, não tira o olho das fichas!, às vezes esquece até o entrevistado...) e a ajuda da péssima edição, fica um certo constrangimento na tela; do lado de fora da tela, a torcida do espectador solitário, eu, e, quem sabe, de uma multidão solitária que também assiste ao programa para que este grande poeta possa fazer uma carreira de sucesso na televisão. Te cuida, Jô Soares!!!

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