14 de jan. de 2005

Alguns tópicos para exame de programas como Repórter Cidadão, Brasil Urgente e Cidade Alerta

Três programas da TV aberta que buscam a audiência quase no mesmo horário de final de tarde: Repórter Cidadão, da Rede TV!, Cidade Alerta, da Rede Record e Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes. Tais programas versam sobre a violência como item principal, porém há algumas diferenças. Em todos esses, há o discurso jornalístico e o aparato tecnológico (helicóptero, cenário virtual, inserções ao vivo...) para fundar e legitimar um discurso popular de cunho violento, como se os âncoras, respectivamente, Ney Gonçalves, Wagner Montes e Datena, colocassem-se como porta-vozes das vítimas e oprimidos, ou seja, tudo gira em torno da legitimação de um discurso popular, e o jornalismo aparece como uma espécie de patamar. A sedução para tornar-se uma voz emblemática é muito forte para esses apresentadores. Cabe aqui um versículo famoso de Eclesiastes, Velho Testamento, da Bíblia: " Vaidade, vaidade, diz o pregador, tudo é vaidade". Trata-se de uma incongruência pois o discurso jornalístico, em princípio, baseia-se numa verdade científica (aquela que busca os fatos, respostas, examina evidências) enquanto o discurso popular baseia-se, em princípio, numa verdade popular ( não há exame de fatos, mas indagações calcadas na sabedoria popular). Para os dois programas, Repórter Cidadão e Brasil Urgente, ocorre tal desnível, uma fenda que os apresentadores precisam costurar ao longo do programa. Em Cidade Alerta, essa fenda é mascarada por um terceiro elemento que não é conjugado nos outros dois programas: o humor. Através do humor a violência, veio principal desse discurso popular, é mascarada e posta, muitas vezes, em um segundo plano, como uma segunda plataforma (como foi dito, a primeira seria o discurso jornalístico). Wagner Montes utiliza um bordão ao final de determinadas matérias, "Escraaaacha!" em que a própria câmera balança, simulando um terremoto ao ouvir esse brado retumbante, entre outras formas de achincalhe. O perigo, ao mascarar através do humor esse discurso popular, está na ampliação da faixa etária da audiência, tanto pra cima, os mais velhos, que reforçam seus preconceitos, quanto para baixo, os mais novos, esses, ainda com os seus valores em formação. O ocultamento dessa fenda pela produção de um discurso do humor também é muito perigoso porque legitima e alimenta a ação do próprio programa.

Nenhum comentário: