31 de jan. de 2005

O bicheiro, o Secretário de Segurança e a novela

Acho que na sexta ou no sábado vi um capítulo da novela " Senhora do Destino", da Rede Globo, em que a personagem vivida por Débora Fallabela é seqüestrada. Os pais percebem o perigo, ligam para o noivo, encontram-se. Neste momento há um diálogo interessante. O pai pergunta para quem ele(o noivo) está ligando e diz que, se quiser, pode falar com o Secretário de Segurança do Estado. O rapaz diz que não precisa, está telefonando para uma outra pessoa que pode resolver o problema: o bicheiro, interpretado por José Wilker. Ocorre também uma outra cena bem interessante: a escola de samba precisa de penas importadas de avestruz que estão na Alfândega. Imediatamente o bicheiro liga pedindo para alguém que libere de imediato as tais penas. Perdeu-se a chance, óbvio, de mostrar o que fazer numa situação real de seqüestro-relâmpago. Fica caracterizado, sem nenhum espanto, o "pára-legal" que não é legal e nem ilegal, mas está à margem da Lei. Não sairemos tão cedo dessa situação, haja vista que, para estar em uma novela, é porque já está cristalizada, uma vez que a novela trabalha e reforça todos os preconceitos e neuroses da classe média, que perdeu, há muito tempo, a esperança no Estado, apelando para o que está à margem do poder, funcional e informal. Lembrou-me sobretudo de um livro que li há tempos: O jeitinho brasileiro, de Lívia Barbosa, da Ed. Campus, 1992. Riram de mim quando pedi por esse livro, mas ele existe. Fruto de uma tese de Doutorado, aborda o modus operandi do "jeitinho brasileiro" e do "Você sabe com quem está falando?" em nossa sociedade. É um livro maravilhoso, com prefácio de Roberto DaMatta.

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