Está saindo nas bancas o DVD da série "Cosmos", de Carl Sagan pela revista Superinteressante. Pretendo comprar e colecionar. O site Nomínimo noticiou o fato, mas se refere ao mesmo como indicado para crianças de 7 a12 anos (rsss). Passei desssa idade faz anos, porém ainda é um assunto que atrai minha curiosidade. Lembro de uma fase em que lia bastante literatura científica, voltada em boa parte para o público leigo. Dentre outros, li Breve história do tempo, de Hawking, e O bico do tentilhão, de Jonathan Weiner. Este foi para mim uma leitura maravilhosa. Trata-se do acompanhamento da vida dos tentilhões, numa das ilhas Galápagos, e suas recorrentes adaptações ao meio, expressão maior da teoria da evolução das espécies, de Darwin. Quanto ao outro, foi uma leitura decepcionante. Saí com mais perguntas e respostas frouxas, quase incompreensíveis. Porém há uma nova versão, ele reescreveu junto com um jornalista da área científica, preocupando-se, enfim, com os leigos. O discurso científico é sedutor. O discurso filosófico também, mas fiquemos, por agora, com o primeiro. Onde está a sedução? Para mim, está na organicidade de um sistema descrito no encantamento da lógica, sobretudo quando comparamos com a irracionalidade do mundo. Também acho que está na aventura da descoberta, no desafio mental, no jogo de linguagem. A ciência ainda (?) não é a resposta para o desafio do mundo, da vida. Mas não está desprovido do espectro do maravilhoso.
Desbravando o vasto oceano das ideias. Profissão e vida: literatura, artes, leitura, programação de jogos digitais e modelagem 3D.
11 de dez. de 2005
1 de dez. de 2005
jornalismo impresso X blog?
Eu nunca acreditei nisso. Evidente que existe uma crise na mídia impressa com o advento da internet, desde então. Mas, ainda assim, não acredito na "morte do jornalismo impresso". Imagino que uma solução seriam matérias mais aprofundadas, investigativas, porque em termos de velocidade, não há como comparar com a internet, e talvez por isso, acredito nos erros que esta velocidade de informação pode acarretar. Aliás, Baudrillard (se não me engano) já dizia que cada nova tecnologia cria um novo tipo de acidente. Também não acho que o blog será a grande fonte jornalística para o leitor. Deverá haver uma relação de interdependência: o blog como uma grande arena para discussão, espaço em que jornalistas e leitores vão poder questionar, opinar sobre a informação trazida pela informação impressa. Podem dizer o que for sobre a internet, o CD, o DVD, porém o fato mais relevante é que o papel, ou melhor, a impressão no papel persiste por pelo menos 500 anos, sem data para terminar.
17 de nov. de 2005
Lançamento de livro infantil
Márcio Leitão, poeta e escritor, velho conhecido de poesia, vai estar lançando o livro infantil Álvaro, o urubu, da editora Zeus, no 7o Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, no jardim do Museu de Arte moderna - MAM, no dia 20 de novembro, às 11 horas da manhã. O endereço é: Av. Dom Infante Henrique, 85, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro - RJ. Se eu não me engano, este é o segundo livro infantil que ele está publicando...
7 de nov. de 2005
Lançamento de livro
Lançamento do livro Contos sobre tela, organizado por Marcelo Moutinho para a Editora Pinakotheke, vai acontecer no próximo dia 8 de novembro, a partir das 20h, na galeria da própria Pinakotheke (um sobrado de época lindo, lindo, na Rua São Clemente, Rio de Janeiro). A obra reúne narrativas de 16 autores, que tiveram 45 dias para imaginar histórias a partir de pinturas, gravuras e esculturas de alguns dos nossos principais artistas plásticos, do figurativo ao abstrato, do clássico ao contemporâneo.
Leituras na web
Tenho lido alguns blogs muito bons na internet. Textos ágeis, de boa leitura, temas interessantes. Resolvi partilhar minha leitura, então.
Sobre o Rio de Janeiro e eventos culturais, vejo sempre o blog do Marcelo Moutinho, escritor e jornalista: http://pentimento.zip.net/
Sobre Relações Internacionais, cotidiano, o blog de Mauricio Santoro e JD: http://www.osconspiradores.blogspot.com/
Sobre humor, o blog do meu amigo Henrique Rodrigues, escritor e poeta: http://www.fullbag.blogger.com.br/
Sobre política, os blogs dos jornalistas Josias de Souza e Ricardo Noblat http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/ http://noblat1.estadao.com.br/noblat/
Por último, o blog do jornalista Jorge Pontual, repórter da Globo, que utiliza o blog para comentar sobre cultura, gastronomia, política, música (clássica, principalmente). Detalhe: quem gosta de Charles Baudelaire vai adorar o site. http://nyontime.blogspot.com/ Estes blogs são, para mim, leituras quase diárias.
20 de out. de 2005
Corpo discente
Para quem não sabe, trata-se de alunos, do conjunto de alunos. Tenho sido apontado por meus alunos do Segundo Grau no CIEP em Itaboraí, interior do Rio de Janeiro, como um dos mais perversos professores. Comentam que as minhas provas de português são difíceis e, o pior, têm dez questões! Eles não estão acostumados com uma prova tão extensa. Na verdade, não estão acostumados com a palavra escrita. Muito complicado... Praticamente não lêem nada, nem jornal de esportes, arrisco-me a dizer que o pouco contato com a escrita está condensada ao colégio. O CIEP não oferece cópias de textos para os alunos, os mesmos quase sempre reclamam quando precisam pagar para tirar cópia. Não é possível utilizar a biblioteca, da forma que gostaria. Há bons livros, mas em geral poucos têm oito ou nove de uma mesma edição. Freqüento bastante a biblioteca, já me disseram que aquela é uma das poucas da região, e, atualmente, quase não recebe novas remessas. Como suponho que o CIEP, desculpe, agora se chama " Brizolão", tenha cerca de 700 alunos, vi, até hoje, somente três alunas que realmente são leitoras. Não vejo mudança a curto prazo. Porém acredito que é preciso planejar atividades e possibilidades para que as futuras mães dessa geração possam relevar a importância da leitura na educação dos filhos. Não sei como poderia ser feito. Tenho andado pessimista por estes dias...
4 de out. de 2005
PROALFA: anos de experiência
Ontem, dia 3 de outubro, foi aniversário do PROALFA, Programa de Alfabetização da UERJ. Participei da história desse programa. Dentre as comemorações, Houve o lançamento de um livro com os textos dos alunos da Terceira Idade que participam das classes de alfabetização. Na época, tomei contato com a alfabetização, li bons livros sobre o tema, e trilhei uma parte de minha vida nesse trabalho com alfabetização de jovens e adultos, comunidades carentes... Rapidamente descobri que são pouquíssimos programas sociais sérios, em todas as esferas: federal, estadual e municipal. Foi emocionante ver os alunos, alguns de minha época de trabalho, receberem os exemplares do livro, uma coletânea. Realmente somos uma sociedade que valoriza por demais a cultura escrita. Assistir aos alunos, emocionados, falarem sobre a vitória que alcançaram ao publicarem no livro, sobre o valor que davam agora à escrita, foi maravilhoso. Rever algumas pessoas de uma época feliz de minha vida também. Parabéns ao PROALFA e à Profa. Anna Helena Moussatchè, diretora, pessoa querida por muitos. Tive sorte em conhecê-la e trabalhar ao seu lado.
26 de set. de 2005
A nova realidade dos CIEPS: parte I
Quem vive no Rio de Janeiro sabe que o CIEP foi uma criação de Leonel Brizola, em seu primeiro mandato, se não me engano lá pelos idos de 82, visando o horário integral com assistência médica, esporte e educação. Ao longo da rodovia Rio-Manilha, por exemplo, é possível ver pelo menos uns seis ou sete. Há CIEP pra todos os lados do Estado. Os professores precisam agradecer ao ex-Governador em suas orações. Graças a ele haverá trabalho por um longo tempo, pois não há como preencher todas as vagas através de concurso público. Sempre teremos contrato e dobra de horários para os concursados. Talvez seja por isso que a Governadora Rosinha decidiu mudar o nome, já publicado no Diário Oficial, para "Brizolão". Isso mesmo. Hoje o CIEP é reconhecido pelo Estado como Brizolão. Faz sentido... Não existe mais horário integral, falta cópia para os professores, todas as escolas têm problemas graves de acústica (como as paredes são baixas, os professores, ao discursarem em sala de aula, têm cerca de 50% da voz emitida dispersa, uma vez que não há barreira que possa impedir tamanha dispersão da voz. Resultado: o professor precisa sempre aumentar o tom da voz para que o aluno que está no final da sala possa escutá-lo). Problemas da construção? correto, porém pouco ou nada foi feito até hoje... (continua)
20 de set. de 2005
Jeanette Winterson: Inscrito no corpo
Foi para mim uma surpresa agradável ler Inscrito no corpo, da editora Rocco, acho que um dos primeiros livros publicados por aqui de Jeanette Winterson, autora inglesa. Fiquei curioso, após sua passagem meteórica na FLIP ( Feira Internacional Literária de Paraty) deste ano, no Rio de Janeiro. Ativista política, simplesmente convidou a todos para fazer um protesto contra a Petrobrás (na época a Petrobrás estava para fazer algumas operações próximas a Paraty que iriam, segundo a opinião dos ambientalistas, degradar o meio-ambiente). Baixinha, mas com um discurso de gigante, não somente participou mas, pelo que li, foi uma das apresentações mais interessantes do evento. Quando passei na Biblioteca Municipal do Engenho Novo, estava lá o livro de pouco mais de 170 páginas, convidando-me para a leitura. Trata-se de um romance muito interessante. Procura retratar sobre as nuances do amor no nível mesmo do corpo fisiológico, no que tem de original. Na verdade, em muitas passagens há o misto de ensaio com o discurso científico sobre a natureza do amor,flertando também com outros gêneros literários como o conto, a partir de um triângulo amoroso: uma mulher casada, seu amante e um marido frio e distante com uma voz narrativa bissexual, sob a ótica do amante. Achei engraçado que no texto de apresentação do romance, somos levados a crer que exista mais de uma voz narrativa que ora se apresenta masculina, ora , feminina. Nada disso. Uma voz somente que se apresenta bissexual, talvez reflexo (sem querer empobrecer o romance, longe disso) da natureza sexual da própria autora, assumidamente bissexual.
Quem quiser conhecer mais sobre a autora pode acessar a página pessoal: www.jeanettewinterson.com
16 de set. de 2005
Vendaval de informações e Lúcia Hipóllito
Quem lê o blog do jornalista Ricardo Noblat ( http://noblat.ultimosegundo.ig.com.br/noblat/) recebe a notícia fresquinha sobre a política nacional. Como estamos em crise, ler todos os detalhes, o disse-me-disse, acompanhar as CPIs, tem sido difícil. Mas é aí que entra a comentarista política Lúcia Hipóllito. Ela faz a análise brilhante, objetiva e sempre direto no olho do furacão. Ler a coluna dessa brilhante cientista política é um prazer. Foi a maneira que encontrei para escapar de vendaval de informações. Além de participar do blog, parece-me que ela também participa de uma mesa redonda no Programa do JÔ, na Rede globo, às quartas-feiras, junto com outras comentaristas, para discutir a crise.
12 de set. de 2005
Briga de vira-latas
Ficou claro que Severino Cavalcanti não vai deixar a presidência. Vai resistir ao máximo. A partir de sua entrevista sofrível (dei bastante risadas quando ele pedia para que os jornalistas publicassem boas notícias sobre a coletiva!!). Que coragem! Este homem era digno de uma personagem de Machado de Assis. Tamanha empáfia com as palavras, assimetricamente destoante com os atos que o conduziram para aquele desfecho, nos permite dizer que teremos uma bela briga de cachorros vira-latas na Câmara dos Deputados. Não quis ofender os cachorros, os vira-latas, mas é a imagem que surge em meus pensamentos. Talvez devesse apostar no bicho, melhor, no cachorro. Porém não sei se o pobre animal é parte na constelação da ilegalidade junto com tantos outros...
11 de set. de 2005
Formação do leitor: bibliografia
Trabalhei por quase dez anos com comunidades carentes. Trabalhei com idosos, adultos, jovens e crianças sempre enfatizando o papel da leitura e da língua portuguesa. Ao longo desses anos formei uma pequena lista de livros que me ajudaram, formaram o meu mundo. Num outro momento descreverei sobre minhas experiências com as comunidades e com o governo, seja na esfera municipal, estadual e federal. A pedido do meu amigo Henrique, elaborei uma lista para um curso, creio que para contadores de história, para formação de agentes de leitura.
ECO, Umberto. Seis passeios no bosque da ficção. São Paulo: Companhia das Letras. 1994.
CHARTIER, Anne Marie e HEBRARD, Jean. Discours sur la lecture (1880-1980). Paris: Centre Georges Pompidou, 1991.
CHARTIER, Roger & CAVALLO, Guglielmo (orgs.). História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, (liv.1), 1998.
FOUCAULT, M. A Ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.
LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. A Formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996.
OLSON, David. O Mundo no papel: as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita. São Paulo: Ática, 1997.
OLSON, David R. e TORRANCE, Nancy. Cultura escrita e oralidade. São Paulo: Ática, 1995.
PROUST, Marcel. Sobre a Leitura. Campinas, 1990.
PENNAC, Daniel. Como um romance. Ed. Rocco
Ver os sites:
http://www.leiabrasil.org.br/publicacoes_livros.htm
http://www.unicamp.br/iel/memoria/
e autores como Fanny Abramovich e Ezequiel Theodoro da Silva
CHARTIER, Anne Marie e HEBRARD, Jean. Discours sur la lecture (1880-1980). Paris: Centre Georges Pompidou, 1991.
CHARTIER, Roger & CAVALLO, Guglielmo (orgs.). História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, (liv.1), 1998.
FOUCAULT, M. A Ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996.
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.
LAJOLO, Marisa, ZILBERMAN, Regina. A Formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996.
OLSON, David. O Mundo no papel: as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita. São Paulo: Ática, 1997.
OLSON, David R. e TORRANCE, Nancy. Cultura escrita e oralidade. São Paulo: Ática, 1995.
PROUST, Marcel. Sobre a Leitura. Campinas, 1990.
PENNAC, Daniel. Como um romance. Ed. Rocco
Ver os sites:
http://www.leiabrasil.org.br/publicacoes_livros.htm
http://www.unicamp.br/iel/memoria/
e autores como Fanny Abramovich e Ezequiel Theodoro da Silva
10 de set. de 2005
Os negociadores da mentira
Estamos conhecendo dois: Severino Cavalcanti e José Dirceu. O primeiro irá negar, negar e negar, três vezes, para que a mentira torne-se verdade, buscando, enfim, um sopro de vida e continuidade do mandato à frente da Câmara dos Deputados. O segundo, mais sinuoso, esgueirou-se através do silêncio para negociar pequenas falhas jurídicas, pontos de tensão, para, enfim, buscar um mínimo de redenção. Um verdadeiro paradoxo para quem um dia almejou a presidência ou talvez nem isso, mas estar ao lado do poder, ser uma espécie de voz da consciência, um arremedo do grilo falante. Ambos irão negociar as mentiras até o fim, como num jogo de pôquer, vão usar todas as cartas, todos os artíficios. Uma aula de política mesquinha e pequena.
9 de set. de 2005
Sombras da morte em "A queda! Os últimos dias de Hitler"
Fiquei impressionado com o filme. Bruno Ganz interpreta Hitler com um vigor e temor que nos choca. Porém chocante mesmo é o suicídio, a sombra da morte que percorre por todo o filme, e o ato patético em si, pelos olhos de quem idolatrava Hitler, arruinado, Eva Braun alucinada, ambos negando veemente a realidade que os permeia: a guerra acabou, tudo foi destruído, todos os sonhos de grandeza. Seus generais completamente aturdidos, entregues aos delírios do álcool e aos impropérios do Füher. O suicídio, como ato final dessa loucura que foi a 2ª Guerra Mundial, surge carregado de alívio, enfado, temor e com um peso niilista que esmaga e sufoca quem assiste ao filme. A negação da esperança com o assassinato dos filhos de Goebbels, perpetrada pela esposa, num ato de louvor ao Nazismo foi, para mim, terrível. Assim como o garoto, jovem soldado que recebe uma medalha do Füher por ato de bravura, que percebe, ao ver os amigos mortos, seus companheiros de infância e de luta, despe-se do manto da guerra e retorna ao lar com uma espécie de filho pródigo. E por tratar-se de uma loucura, tem os pais mortos pelos próprios soldados alemães, caminhando para um mundo sem sentido. Sente-se no corpo decadente de Hitler o ódio não mais por judeus, mas por toda a humanidade como a derrocada final. O filme segue a trama aos olhos da jovem secretária de Hitler. Aliás, inicia-se o filme com o depoimento da secretária nos dias atuais e encerra-se com um mea culpa honesto e sensível, de quem, deslumbrada com o mundo e a curiosidade juvenil de estar no centro da história, ao trabalhar com o ditador, não se apercebeu da violência e do banho de sangue, inadmissível em sua própria opinião, que manchou para sempre a Alemanha.
8 de set. de 2005
O espetáculo da seleção brasileira
Não tenho dúvidas de que hoje a seleção só perde para ela mesma. Não importa nem se vai jogar com os quatros (carinhosamente chamada de “Quarteto Fantástico”) ou os cinco. Simplesmente não há adversário que tenha o mesmo plantel (palavra interessante essa) que o nosso time. Concentrada para uma partida, como a que realizou com o Chile, deverá esmagar os times inferiores (ainda existem) em poucos minutos e descansar ao longo da partida. Como no auge das lutas do Mike Tyson. Queriam espetáculo? Em segundos, Tyson destruía seus inimigos. Não havia tempo para isso. Espetáculo somente nos primeiros filmes de Rocky, estrelado por Silvester Stallone. Com a seleção teremos espetáculo até os 40 minutos do primeiro tempo. Depois de morto o inimigo, como nas grandes batalhas, o repouso do guerreiro ao longo do segundo tempo. Hoje o maior inimigo é a vaidade e a presunção. Na imprensa há o comentário de que esta é a melhor seleção de todos os tempos. Ainda não. Para mim, foram três: a de 70, que nunca assisti (ainda era um projeto de vida), mas percorre todo o imaginário dos brasileiros e estrangeiros (vide a homenagem que o diretor britânico Ken Loach realizou no filme “Meu nome é Joe”) com uma vitalidade impressionante; a de 1982, assistida, e que até hoje me emociona; a de 2002, que daria um belo filme com a seguinte sinopse: seleção desacreditada, com o ídolo Ronaldinho tendo que provar para si mesmo e para o mundo a sua recuperação, supera todas as adversidades em um belíssimo campeonato. Fosse um esporte consagrado nos EUA, Hollywood já teria filmado. Aguardemos a Copa do Mundo, portanto, o apito para o início do jogo. Nesse momento da partida, o ponto zero, a verdadeira batalha não será mais travada no campo mas na mente dos jogadores.
5 de set. de 2005
Katrina e o verniz da Humanidade
Duro ver New Orleans arrasada pelo furacão Katrina. Tira-nos a certeza de que, definitivamente, não há lugar seguro no mundo. E temos que conviver com a incerteza do mundo que o Capitalismo tanto escondeu e lutou para disfarçar através de suas falsas benesses. Pior ainda foi saber que, através dos estupros, saques, falta de segurança na cidade, suicídios, tantas e tantas mortes caiu o verniz da humanidade. Sim, bastou arrancar o mínimo de vestígio civilizatório para vermos a bestialidade do homem. Ser humano ainda é uma utopia. Para ver como vai acabar tudo isso recomendo a leitura do romance de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, Companhia das Letras. Não ocorre a fúria de um furacão no livro, mas uma crise de valores, na minha opinião, idêntica. Também acredito que os orientais tenham muito para nos ensinar, sobre como nos comportar diante de uma tragédia como essa, haja vista a destruição provocada pelas monções, todos os anos.
1 de set. de 2005
Descobrindo Balzac
Nunca tinha lido Balzac. Comprei um livro do autor no original, La Maison du Chat-qui-Pelot, para manter em dia o meu francês, na verdade, quero melhorar meu domínio sobre o idioma (rssss). Deparei-me com uma história de vida interessante: o escritor foi uma verdadeira máquina literária, uma produção de causar inveja a qualquer um, sofreu por um amor que só pôde ser consumado já perto de sua morte; e mais, procurou sempre defender a mulher da opressão da sociedade, baseado no convívio com suas irmãs, mais especificamente Laurence. Tem sido uma leitura difícil, junto com dicionário, sempre, mas bastante prazerosa. Chama a atenção do leitor o papel da descrição no texto de Balzac. A descrição das roupas dos personagens, nos mínimos detalhes, por exemplo, estão associadas a características psicológicas, como num corpo só. Difícil separar o físico do psicológico. Autores contemporâneos não fazem isso. Poucos trabalham com a descrição, buscando a palavra certa, com o objetivo de traçar uma característica. Muitos vão dizer que hoje o romance moderno jogou a descrição, técnica de produção de texto, para escanteio. Importante a sugestão, a cortina de fumaça. Concordo. Mas ler Balzac, até o momento, tem sido também uma lição de técnica literária. Nada está solto no texto. Aliás, como disse Autran Dourado, o escritor precisa conhecer as palavras comuns, dominar o substantivo que dá nome ao mundo, na minha opinião, descrever, descrever, descrever...
29 de ago. de 2005
Longa ausência
Após um tempo longe do blog, passando ao largo... Resolvi postar baseado na frase em que a raposa diz ao pequeno príncipe (sim, O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupèry). "A espera aumenta o desejo"...
4 de ago. de 2005
cinema e videogames
Não sou fanático por videogames, mas preciso dizer que as narrativas que introduzem aos jogos, que acompanham o jogador ao longo da disputa, estão cada vez mais elaboradas. Para uma nova geração que não estabeleceu contato com a literatura, acredito que os videogames mais elaborados são hoje o que podemos chamar de best-sellers. Existe uma geração eletrônica que não somente joga, mas "lê" e curte as narrativas dos jogos, narrativas essas baseadas na estrutura mítica do herói (devo falar mais tarde sobre esse assunto). Hollywood já percebeu o nicho e começa a trazer uma safra de jogos para o cinema. Por muito tempo as produtoras utilizavam adaptações literárias, biografias e narrativas de roteiristas da casa. Existe hoje na indústria americana de cinema um setor de pesquisa para novas mídias, que busca novas alternativas para criação e fonte para roteiros de filmes. Estão em vista produtos eletrônicos como bonecos, bonecas, carros ( a série Wheels de carros de corrida também vai virar filme), histórias em quadrinhos, e, não poderíamos deixar de dizer, videogames. Estão para sair "Doom", entre tantos outros (saiu recentemente em DVD " Alone in the dark"). São todos filmes fracos, a maior preocupação ainda são com efeitos especiais. Imagino que com o tempo surjam roteiristas de boa paga para cuidar desses filmes.
22 de jul. de 2005
A montanha da alma
Só o título já merecia a leitura do livro. A montanha da alma, de Gao Xingjian, da Objetiva, é um romance que contempla a China nos anos 70. Gao Xingjian é radicado na França e foi vencedor do prêmio Nobel de 2000. A história é ínfima: um viajante percorre o interior da China em busca da "Montanha da alma". A narrativa é sustentada por diversas vozes em 1a, 2a e 3a pessoas, e formas literárias diversas como o relato, o ensaio, canções populares. De fato, os personagens estão submetidos à estrutura do romance, a preocupação é discutir a cultura chinesa os dramas do Homem referentes à morte, nascimento, arte. É uma obra aberta, dividida em pequenos capítulos que poderiam continuar quase que infinitamente ( um problema apontado por Massaud Moisés, crítico literário. O drama do romance não é começar mas terminar!). Essa multiplicidade de vozes, de início, confundem o leitor, porém ao longo do texto o próprio narrador explicita sobre o assunto: existe somente um Eu, dividido em várias vozes. Vale a pena ler não somente para conhecer a China cultural, mas principalmente pelo trabalho de artesão so escritor. Aliás, não é à toa que o autor trabalhou por sete anos para elaborar esse romance, uma verdadeira montanha ( belíssima) de 422.
14 de jul. de 2005
A previsão de Cândido Mendes
Nesses dias de mensalão e corrupção no Palácio do Planalto, eu me lembrei de um argumento do cientista político Cândido Mendes, no final dos anos 90. Dizia o renomado cientista que o PSDB de Fernando Henrique estava preparando o governo para a entrada do PT, de Lula, para o próximo mandato, pois o trabalho principal da administração do PT seria o combate à corrupção, principal bandeira das administrações petistas municipais. Imagino quão arrependido deve estar por tais palavras e expectativas...
11 de jul. de 2005
Clubes de futebol e o timemania
Dizem que o " Timemania", nova raspadinha a ser lançada pelo Governo Federal, vai ser a solução para os clubes de futebol brasileiro. Não será. Vai ser a solução para o governo receber o dinheiro referente a dívidas do INSS, entre outros. Podemosa colocar aí uns oito anos, se tudo der certo. Vai permanecer a cartolagem, ou será que eles vão querer sair? Não vão. Ontem, no jogo entre Flamengo e São Paulo (o time de reservas, pois o principal vai disputar a finalíssima da Taça Libertadores) o Flamengo perdeu (2X0), gol contra de Júnior Baiano. Acabou, definitivamente para mim, o Flamengo. Vou ficar com aquele time mitológico, campeão de 82, e também com a seleção brasileira. E com o livro de Eduardo Galeano sobre futebol, da LPM (esqueci o nome do livro, mas é o registro de feitos fantásticos e maravilhosos sobre o futebol esse esporte encantatório).
10 de jul. de 2005
Autran Dourado e Raimundo Carrero: técnicas da ficção
Passei os olhos no novo livro de Raimundo Carrero, Os segredos da ficção, da Ed. Agir, e li recentemente A poética de romance, da Ed. Perspectiva, 1974, de Autran Dourado. São dois bons livros com grandes diferenças. Se alguém quiser conhecer a técnica da ficção, ou mesmo ter um bom instrumental para tornar-se um bom leitor, ler o livro de Carrero é uma ótima oportunidade. Ponto de vista, construção de personagem, cuidados e problemas da escrita. Uma leitura agradável que pretendo aventurar-me assim que puder. Em A Póetica de romance, parece-me que houve uma edição revista e atualizada (o exemplar que li era de 1794), não sei se houve uma mudança significativa. É um livro mais denso, mais reflexivo, testemunho de um fazer poético, do papel mesmo do escritor, do romance. É quase um desabafo escrito com a elegância e a força da narrativa de Autran Dourado, para mim um dos melhores autores da atualidade. Uma diferença fundamental entre os dois livros está na composição da personagem, (claro, há outras questões e pontos que os diferenciam também). Para Autran, a personagem deve estar a serviço da estrutura do romance, como uma grande imagem, ou metáfora, representativa da frase que seja capaz de resumir o romance. Carrero percebe na construção da personagem um item vital, destacando uma força capaz de sobrepujar a própria estrutura do romance. Vale a pena a leitura dos dois livros, ao menos para conhecer as técnicas da ficção.
4 de jul. de 2005
Paranóias e narrativas
Encontrei um site com um subtítulo no mínimo curioso: O lado negro da Net. Na verdade, um conjunto de paranóias, diversas teorias da conspiração, como, por exemplo, a de que o planeta Terra está parando o movimento de rotação (tem um link ensinando como se preparar para o evento, digo, a catástrofe), a inversão dos pólos (Norte e Sul) em 90 graus, arquivos do FBI sobre ETs etc. São narrativas fabulosas, dignas de um Peer Gynt, de uma Emília (aquela mesmo, do Sítio do Pica-Pau Amarelo...). O site é uma compilação de vários sites temáticos. Eis o endereço:
São Paulo Fashion Week
Finalmente acabou a São Paulo Fashion Week. Cada ano que passa a inserção de matérias, seja no jornal, na TV ou mesmo na Internet, aumenta. O tipo de abordagem das matérias são cada vez mais interessantes, do sensual a uma falsa intelectualidade. No site do Terra, por exemplo, algumas chamadas curiosas : "Veja Hickman ( modelo e hoje, apresentadora de TV) de bíquini", "desfile de modelo com os seios descobertos" e entrevista com estilistas quase que num tom ensaístico. Nesses tempos de pós-modernidade (o termo ainda é correto, usual? não sei...), assistindo algumas matérias, refletindo sobre o assunto, penso que hoje a forma é o conteúdo.
1 de jul. de 2005
Poesia e arquitetura em Cecília Meireles
Recentemente li Amor de Leonoreta, de Cecília Meireles. Na verdade, o livro era uma reunião de cinco pequenos e significativos livros da poeta, do início da década de 50. Conheci a autora através de sua crônicas e do livro, talvez sua obra máxima, O Romanceiro da Inconfidência. Mas voltemos ao primeiro livro enunciado aqui. O que me deixou deslumbrado foi o apuro, o cuidado com o verso, a perfeição de quem está esculpindo, entalhando na palavra mesmo, a poesia e a força da imagem e da música. Em Poemas escritos na Índia, sobre usa passagem por aquele país, impressiona o registro da viagem em versos. É possível visualizar e conhecer a Índia. Não eram somente versos ou poemas, porém crônicas, relatos, tal a sensação que me ocorreu ao terminar de ler. O trabalho poético da autora tem a aproximação com a arquitetura de que Ezra Pound sempre denotara. Para ele, a Poesia não deveria fazer parte da Literatura, mas da Arquitetura, devido ao apuro, rigor, constituição e imaginação de ambos os trabalhos. E ainda tem poeta, que se julga poeta, que não consegue fazer sequer uma escansão dos versos.
21 de jun. de 2005
Um documento poético
Assisti "Poeta de sete faces", de Paulo Thiago. Um documentário sobre a obra poética de Carlos Drummond de Andrade. Há um pouco de tudo: leitura de poemas, vida e obra do poeta. Em vários momentos há uma lentidão que imagino intencional, digno de Minas, do mineiro. Mas há belos instantes, flashes, como a casa em que o poeta nasceu, opiniões de Ferreira Gullar, as leituras de Zezé Motta, Antonio Calloni, Paulo Autran.
Meu objetivo era o de apresentar às minhas turmas do ensino médio. Conversar sobre poesia e poetas, algo que venho fazendo há um bom tempo. É certo que seria um desastre, pois não tem a agilidade de um clipe de música, elemento indispensável para a atenção dos meninos. Vou passar "O carteiro e o poeta". Este também não tem o ritmo dos clipes, mas é emotivo, de um humor fino e leve. Falta um pouco disso em "Poeta de sete faces".
6 de jun. de 2005
Malvados
É uma das melhores tiras de humor na internet, mas aquele humor ácido e corrosivo de Jules Feifner, Calvin e Haroldo, Angeli e tantos outros que deixaram saudades. Conheci por acaso em um blog sobre a América Latina (www.locoporti.zip.net). São duas personagens, desenhadas de maneira tosca, que discorrem e vivenciam vários assuntos, temas. Há uma quantidade boa para ler e se divertir. Não vejo em banca, mas acredito que em pouco tempo estará circulando em alguma revista. www.malvados.com.br é atualizado diariamente.
3 de jun. de 2005
Os ensaios de Joseph Brodsky
Joseph Brodsky é um poeta russo, vencedor do Nobel em 1987, morreu em 1996, nos EUA, país que adotou, inclusive a língua. Conheci-o através de seus ensaios, ou melhor, do livro de ensaios Menos que um, da Companhia das Letras, em 1995, numa resenha da Veja, escrita por Diogo Mainardi, o "Mini-mim" do finado Paulo Francis. Por que estou dizendo isso? Levei quase uma década para ler este livro. Lembro que naquela época comecei a ler e me senti perdido, com a sensação de que as palavras estavam ali, porém eu estava um tanto quanto distante. Achei melhor dar um tempo e o tempo foi nos aproximando novamente. Boa parte dos textos falam de uma Rússia que não existe mais, talvez seja interessante para um historiador, não para mim. Todavia restaram os textos literários que, sempre que possível, irei relê-los. Cada linha de texto desse autor guarda um impacto, uma grandeza de pensamento que até hoje surpreende-me. No ensaio " Catástrofes no ar", Brodsky comenta sobre as duas divisões que na literatura russa surgiram após Tolstoi e Dostoievski, de como este deixou marcas profundas e o outro serviu de molde para toda uma geração, no que agradou, e muito, ao comitê soviético. De quebra, narra o panorama literário até a década de 80 ( os ensaios, em sua maioria, são dos anos 80). Não bastasse isso, discute também a arte literária, os caminhos que aos escritores se apresentam. Não quero descrever mais. Vou destacar uma passagem como exemplo:
"Existem, grosso modo, dois tipos de homens e, da mesma maneira, dois tipos de escritores. O primeiro tipo, sem dúvida a maioria, considera que a vida é a única realidade de que dispomos. Transformada em escritor, essa pessoa irá reproduzir esta realidade nos seus mais ínfimos detalhes... Fechar seu livro é como chegar ao fim de um filme... O segundo tipo, a minoria, percebe a sua própria vida, e a de qualquer outro, como um tubo de ensaio para certas qualidades humanas, cuja manutenção sob pressão extrema é crucial para uma versão eclesiástica ou antropológica do advento da espécie. Como escritor, um homem deste tipo não mostrará muito em matéria de detalhe; em vez disso, vai descrever os estados e as guinadas da psique de seus personagens com tal profundidade que você agradece por nunca tê-lo conhecido em pessoa. Fechar seu livro é como acordar de manhã com o rosto mudado." (pág. 112)
Há muitas e muitas passagens que valem uma releitura para novas descobertas. Fico apenas imaginando como deve ser o trabalho poético deste autor...
30 de mai. de 2005
Pega na mentira!!!
Tornado no interior paulista, com grande prejuízo na lavoura. Não teve jeito: caiu mais uma mentira. Passei todo o período escolar ouvindo que no Brasil não havia tornado, furacão... Ano passado tivemos um furacão de porte médio na região Sul. Outra mentira? Está na África. Melhor, nas duas Áfricas: África branca e, mais embaixo, a África negra. Hoje ninguém tem coragem de afirmar tal separação. Estudei isso em Geografia e me sinto enganado.
13 de mai. de 2005
O mar
Salim Miguel decididamente é um dos melhores autores brasileiros da atualidade. Sabe construir uma narrativa densa sem perder a delicadeza. Em Mare nostrum, da editora Record,2004, um romance " desmontável", como o póprio autor sugere, temos a sensibilidade de personagens carismáticas como seo Neno e a força bruta e misteriosa do mar, presente em todos os capítulos. Não há necessariamente uma ordem para a leitura, é possível ler a partir de várias frentes, mas o que faz com que não se torne simplesmemte um livro de contos são os pontos de contatos presente por toda a narrativa. Lembrou-me bastante de uma canção do grupo musical português Madredeus, que poderia servir como uma bela trilha sonora. Está no CD O espírito da paz, de 1994. A música se chama "O mar":
O mar
Não é nenhum poema
o que vos vou dizer
nem sei se vale apena
tentar-vos descrever
o mar
o mar
e eu aqui fui ficando
só para o poder ver
e fui envelhecendo
sem nunca perceber
o mar
o mar
Pedro Ayres Magalhães
Quem melhor do que os portugueses para entender a poética do mar?
3 de mai. de 2005
O mais belo enigma do Oriente é a cultura árabe
Quem conhece Alberto Mussa? Infelizmente poucos, eu acho. Tive a sorte do meu amigo Henrique insistir na leitura desse escritor severamente desconhecido. Ele é autor de um romance interessante: O enigma de Qaf, da Record, publicado em 2004. A narrativa é um passeio pela língua árabe e as mitologias que cercam essa cultura exótica aos nossos olhos. Lembra vagamente Borges com a exploração de uma lógica absurda, complexa e encantatória em muitos de seus textos, mas trata-se da cultura, da própria língua e da sofisticação do estudo da poesia pré-islâmica, o ponto forte. Há também o enigma, o autor não favorece com as pistas, porém, sinceramente, quem se importa? Estão lá situações, personagens como Xerazade e tantos outros, que o enigma pode ser desvendado numa próxima releitura. Vale a pena.
26 de abr. de 2005
Deus: narrativa literária
Fiquei intrigado com a proposta de Jack Miles, crítico literário, no livro Deus - uma biografia, da Companhia das Letras. Em princípio, o autor deixa claro que o objetivo não é analisar do ponto de vista religioso ou mesmo filosófico, mas a partir da literatura, interpretando a bíblia como obra literária, tendo como principal personagem, Deus. O desenvolvimento do personagem, suas principais características, a personalidade complexa... Utilizando como fonte de trabalho o Tanach, a bíblia hebraica, os primeiros livros do Antigo Testamento, que, se comparados com a bíblia, apresentam uma inversão no tocante à ordem dos livros do Pentateuco.
Intrigado, cinqüenta páginas depois, decepcionado. Tive a nítida impressão de tratar-se apenas de uma especulação narrativa, uma crítica romanceada, não mais que isso. Difícil exercer o direito de não ler, um dos mandamentos empregados por Daniel Pennac em seu livro, Como um romance. Mesmo não gostando, sempre leio, somente para saber se o livro realmente é ruim. E quase sempre esqueço quando o li. Porém, lembrei-me de Lin Yutang que disse certa vez, talvez não com estas palavras: "Livros? Os outros que os leiam." numa alusão sobre a impossibilidade para lermos todos os livros que nos cercam. Pois bem. Enchi-me de coragem e encerrei a leitura de Miles com essa frase: Os outros que o leiam.
18 de abr. de 2005
Janelas de Eduardo Galeano
Terminei de ler mais um belo livro de Eduardo Gaelano: As palavras andantes, LPM, 1994. Infelizmente a mídia não tem dado o devido reconhecimento a este autor uruguaio. Pior: congelaram-no com As veias abertas da América Latina, ivro que toda juventude deveria ler. Mas o autor abandonou esta linha que eu considero carregada de um romantismo aguerrido. Tornou-se contador de histórias. Melhor, colecionador de histórias da América, do Novo Mundo. Ao ler seus livros, sentimo-nos como parte de uma América una, embora dividida pelas línguas. Sentimento de que temos e somos donos de uma imensa e rica tradição cultural que permeia toda américa. Tem um livro que pretendo ler, uma série de causos, narrativas, sobre futebol. Não me lembro do título.
Pois bem... voltemos ao livro que faz jus a este texto. Livro bem elaborado, com xilogravuras de Francisco Borges, histórias maravilhosas. Pequenas narrativas simbólicas, seres fantásticos e janelas, muitas janelas. Cada janela um olhar especial sobre o mundo, sentimentos e idéias. Não vou me estender. Vou terminar com o seguinte texto:
JANELA SOBRE A UTOPIA
Ela está no horizonte - diz Fernando Birri. - Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para caminhar.
17 de abr. de 2005
Muito tempo depois...
Quase um mês sem postar. Estava estudando, preparando-me para provas do concurso público (fiz recentemente para a prefeitura do Rio). Sempre fico com a consciência pesada nestes momentos: se escrevo para o blog, não estou estudando... se estudo, quero postar por aqui.... fora o estudo o que mais fiz? Nada. Quer dizer, saí, vi um filme ou outro. Para mim o que significa exatamente "nada"? Não li, ou melhor, não li algo que fosse relevante. Como disse uma vez Lin Yutang, autor chinês, sem a leitura prazerosa a conversa de um homem fica sem tempero, sem sal. É isto. Tornei-me um homem de uma conversa sem gosto por esses dias.
26 de mar. de 2005
Anos 80
Ontem ocorreu a festa Ploc, no Rio de Janeiro, no Circo Voador. Não fui: preguiça, chuva, preguiça... um revival dos anos 80, época de minha adolescência. Bastaram quinze anos para percebermos o acúmulo cultural dessa época. Um seriado americano cujo tema são os anos 80, um livro que reúne aspectos culturais dessa geração (da Ediouro, não lembro o título), e agora as festas. Resolvi postar os principais eventos que me marcaram nos anos 80:
Filme: Os gremlins (I e II); De volta para o futuro (I,II e III); Jornada nas Estrelas - A ira de Khan; Os garotos perdidos; E.T.;
Bandas: Paralamas, Legião, Ultraje a rigor, Blitz, RPM, U2...
Futebol: Copa do Mundo de 82, Flamengo de 82 (Mundial de Clubes)...
Tênis: Rainha Yate (o azul e o marrom, com o branco era possível pintar e fazer "quadriculados")...
Roupa: Company, Lighting Bolt, K & K, Anonimato, KGB...
Quem quiser pode completar nos comentários que eu coloco por aqui.
25 de mar. de 2005
Comunicação pelo mundo
Tem todo jeito de uma enciclopédia, mas não é. Trata-se de um belo (e grande em suas medidas) livro encadernado e fartamente ilustrado sobre os meios de comunicação - origens e evoluções. O mundo em comunicação, de Silvana Gontijo, da Editora Aeroplano, pode ser dividido em duas partes: tecnologias da comunicação, uma visão geral, e histórico dos mídias ao redor do mundo, com ênfase na história no Brasil. Nesta parte há um "atlas brasileiro de comunicação" escrito por vários autores, dentre eles Ricardo Cravo Albin, sobre o Rio de Janeiro, apresentando um breve relato de cada um dos estados. Para tornar-se um pouco mais completo, faltou um breve relato oficial das políticas de telecomunicações no país ao menos até a década de 90, uma vez que foi publicado em 2002, havendo também o patrocínio da Embratel. Mas estão lá algumas curiosidades da propaganda, do rádio, da televisão... Escrito numa linguagem leve, sendo um bom material de referência e pesquisa. O tipo de livro que vale a pena ter em casa.
14 de mar. de 2005
A República Mundial das Letras: modus operandi
Terminei recentemente de ler A República mundial das Letras, de Pascale Casanova, Estação Liberdade. A autora discute a possibilidade de demarcação do universo das Letras utilizando termos da economia, como acumulação de capital (literário), entre outros. A capital da Literatura Internacional, segundo Casanova, seria Paris, tendo como concorrentes o eixo Londres-Nova Iorque. Nas línguas de menor acumulação literária, vamos chamar assim, como a espanhola e a portuguesa, teríamos, respectivamente, Barcelona e o eixo São Paulo-Lisboa. De início a autora narra como a língua francesa buscou sobrepujar-se à língua latina, então dominante, e, em seguida, outras línguas, como a inglesa e a alemã, que buscaram nivelar-se à língua francesa, posteriormente. Apresentando o universo literário como campo de luta, Casanova destaca alguns grupos de escritores: os assimilados, que abdicam da língua nativa a favor da francesa ou inglesa, os tradutores, que para escaparem do ostracismo precisam traduzir-se para sobreviver; os revoltados, que lutam pelo reconhecimento a partir da língua nativa, como alguns escritores africanos e os revolucionários, que construíram uma língua internacional, como James Joyce, William Faulkner. Livro muito interessante, sobretudo pela parte referente à edição de livros sob a ótica dos conglomerados de entretenimento que estão absorvendo editoras, impondo suas altas margens de lucro, taxas de retorno, na produção e distribuição no mercado literário.
2 de mar. de 2005
Versão nacional
Estão para sair fotos do casal sensação do ano, Ronaldinho e Cicarelli, mostrando sensualidade em preto e branco. Tudo indica que os mesmos devem seguir os caminhos do casal inglês David Beckham e Victoria. Provavelmente o amigo Beckham, que joga ao seu lado nos Galácticos (time do Real Madrid) está dando algumas dicas. Eles devem seguir à risca porque, certamente, a tentação é forte... Ah! vaidade, vaidade, tudo é vaidade... Teremos uma versão nacional?
28 de fev. de 2005
Sobre Nur na escuridão, de Salim Miguel
Surpreendeu-me o romance Nur na escuridão, de Salim Miguel. Tratava-se de um autor que já ouvira falar, curioso que sou, peguei o livro para ler... É um romance autobiográfico que narra a vinda da família libanesa, inicialmente, para o Rio de Janeiro e depois para Florianópolis. No texto predomina o discurso indireto livre com frases entrecortadas e curtas, utilizando bastante a vírgula ao invés do ponto, o que torna o texto ágil, demonstrando o trabalho consciente de quem labora com a escrita. Não há nada solto ou estanque no romance. Uma prosa maravilhosa para degustar, cenas belíssimas e bem narradas. Gostaria de encerrar com um parágrafo, do capítulo final, que vai narrar a morte do pai, mas que representa, na verdade, todas as mortes que nos cercam. Minha desculpa também para consolar meu amigo Henrique, que perdeu o pai recentemente. Essa é para vc, meu amigo, e para todos aqueles que perderam alguém especial:
"Chegou a hora. Protelação impossível. Necessário encarar o tema. Não há como elidi-lo. E a mesma idéia, obsedante, volta com força. Não são os mortos que morrem. Somos nós, os vivos, que para eles morremos. Deixamos de ser. Os mortos continuam vivendo na nossa lembrança, no nosso sofrimento. Vivendo e presentes. Mais: uma parcela nossa se vai com eles. Melhor: uma parcela deles se incorpora à nossa vida."
Salim Miguel, Nur na escuridão, pág. 238, Topbooks, 2004.
26 de fev. de 2005
A biblioteca de Miguel Sanchez Neto
Que tal um livro que trata do relacionamento com a leitura e os livros? Herdando uma biblioteca, de Miguel Sanchez Neto, da Record, é maravilhoso no que tange ao assunto. Curioso é que eu li uma resenha, se não me engano no Jornal do Brasil, e não me empolguei. A partir de crônicas publicadas em jornais, agora reunidas, o autor, que é romancista, poeta e crítico literário, narra seu encontro com a literatura, com o livro impresso nas mãos. O sonho de construir uma biblioteca, o relacionamento com a leitura, com os autores que vão segui-lo para sempre, com o objeto livro: uma relação de carinho. Em um dos capítulos, o autor narra os melhores locais que ele descobriu para ler. Dei-me conta de que, para mim, o melhor local são entre quatro paredes, seja no quarto de minha casa, na sala... Na verdade, em locais fechados, como um ônibus, por exemplo, onde tenho o costume de ler. Suas reflexões e narração sobre o ato de amor ao livro reflete em todos nós, leitores contumazes. Em minha opinião, esse livro é uma versão nacional do bem sucedido Como um romance, de Daniel Pennac, da Rocco, que narra as aventuras com os livros e a leitura. Neste livro recordo-me de uma frase genial, mais ou menos com essas palavras: O tempo para ler é como o tempo para amar: sempre um tempo roubado. Não vou explicar o título do livro de Sanchez, pois o capítulo que cuida do assunto é tocante. Posso apenas recomendar o livro com a certeza de uma boa leitura.
Para terminar... Quem me emprestou o livro foi meu amigo Henrique, grande leitor que tem acesso aos livros novos que estão saindo no mercado agora. Com meu amigo realizei um sonho: leio os clássicos, pegando na biblioteca, comprando em sebos, e leio os autores novos, pegando emprestado com ele.
18 de fev. de 2005
Os sistemas d`O Arco-íris da Gravidade, romance de Thomas Pynchon
Terminei de ler o livro O Arco-Íris da Gravidade, de Thomas Pynchon, da Companhia das Letras, tradução de Paulo Henriques Britto. Um calhamaço de mais de setecentas páginas. Já fora avisado de que se trataria de uma leitura difícil. Mas eu sou persistente. Sempre vejo tais livros como montanhas que precisamos escalar de vez em quando. Nesse, há um fiapo de história: final da Segunda Guerra Mundial e início do Pós-Guerra, Slothrop, combatente americano em Londres, desperta o interesse de uma agência militar porque toda vez que faz sexo uma bomba V2 cai por perto. há diversas personagens e o cenário é a Europa devastada. Situações diversas vão se sucedendo, alternadamente, quase num ritmo alucinatório. Estão lá teorias da conspiração, discursos sobre a tecnologia, grandes corporações, sexo, drogas... As personagens são, em sua maioria, caricaturais. O que está em jogo no romance é o advento do discurso tecnológico incorporado à guerra pelas grandes corporações, e o homem frente a esse novo mundo do Pós-Guerra. É a elaboração de sistemas de controle e informação pelas grandes empresas, tudo num tom bastante irônico, reflexivo, cruel... As personagens são rasas em virtude das redes de sistemas que são construídas, que as descaracterizam. O ponto alto é o discurso técnico-científico a favor da guerra, do controle do poder pelas grandes empresas. Penso ser o prenúncio do que vivemos hoje (o livro é de 1973) com o controle da informação e do poder pelas multinacionais. Livro difícil, porém interessante. Para dar um gostinho a mais, o final é a narração de uma bomba experimental (se quiserem leiam o livro!) em queda livre e o silêncio de sua explosão. Não se preocupem.. contar o finalzinho do livro não vai estragar a leitura (rs).
16 de fev. de 2005
Trabalho de leitura em sala de aula - parte VI
9. “A prática da leitura é apenas uma das práticas culturais de nossa sociedade”.
Nunca mais esqueci essa sentença proferida por Marisa Lajolo, na I Conferência de História da Leitura e do Livro no Brasil, em outubro de 98, Unicamp. Essa sentença faz perceber que por mais louvado que seja o trabalho com a leitura, por mais rico que seja o debate e a produção de livros e teses acadêmicas sobre esse assunto, ainda assim, vai tratar-se de uma das nossas práticas culturais. Não é desmerecimento, é constatação. Uma constatação enobrecedora – como todo o processo de educação – para quem toma para si a tarefa de partilhar a prática da leitura com outros.
Nunca mais esqueci essa sentença proferida por Marisa Lajolo, na I Conferência de História da Leitura e do Livro no Brasil, em outubro de 98, Unicamp. Essa sentença faz perceber que por mais louvado que seja o trabalho com a leitura, por mais rico que seja o debate e a produção de livros e teses acadêmicas sobre esse assunto, ainda assim, vai tratar-se de uma das nossas práticas culturais. Não é desmerecimento, é constatação. Uma constatação enobrecedora – como todo o processo de educação – para quem toma para si a tarefa de partilhar a prática da leitura com outros.
12 de fev. de 2005
Trabalho de leitura em sala de aula - parte V
7. Respeitar o tempo próprio de cada leitor;
É preciso respeitar o tempo de descoberta do leitor no contato com o texto, pois é neste tempo – e nesta descoberta – que o leitor está fazendo da sua leitura uma construção de sentidos. A tarefa do professor, em seguida, é confrontar esta descoberta com a dos outros alunos/leitores.
8. Professor como tecelão do grupo;
Gosto da idéia do texto como tecido, como certa vez Barthes escreveu. Por isso, talvez seja mais fácil explicar o tecido, e não o texto. O tecido constitui-se de um conjunto de fios agrupados em determinados sentidos. É trabalho do tecelão juntar os fios para formar o pano. Pois bem, a leitura é construção de sentidos porque é o reagrupamento do texto/tecido. Somado ao texto estão agora expectativas e questionamentos do grupo de leitores, um novo pano, portanto. Cabe ao professor dar um propósito ao tecer este novo tecido.
É preciso respeitar o tempo de descoberta do leitor no contato com o texto, pois é neste tempo – e nesta descoberta – que o leitor está fazendo da sua leitura uma construção de sentidos. A tarefa do professor, em seguida, é confrontar esta descoberta com a dos outros alunos/leitores.
8. Professor como tecelão do grupo;
Gosto da idéia do texto como tecido, como certa vez Barthes escreveu. Por isso, talvez seja mais fácil explicar o tecido, e não o texto. O tecido constitui-se de um conjunto de fios agrupados em determinados sentidos. É trabalho do tecelão juntar os fios para formar o pano. Pois bem, a leitura é construção de sentidos porque é o reagrupamento do texto/tecido. Somado ao texto estão agora expectativas e questionamentos do grupo de leitores, um novo pano, portanto. Cabe ao professor dar um propósito ao tecer este novo tecido.
8 de fev. de 2005
Trabalho de leitura em sala de aula - parte IV
5. Não subestimar o aluno;
Tenho uma experiência curiosa para este assunto. Numa atividade de leitura que exerci com turmas da 3a idade, resolvi trabalhar a letra da música “O teu cabelo não nega”, de Lamartine Babo. Qual era minha intenção? O texto seria um pretexto para discutir tempos idos, reavivando-os para contrapor com o momento atual, de maneira bem simples, numa discussão nada complicada. Quando comecei a perguntar sobre as marchinhas e o carnaval daquela época, Dona Juraci, uma das alunas, interrompeu-me e perguntou se Lamartine não estaria sendo racista, comparando a cor da mulata com uma doença (“Mas como a cor não pega/Mulata/Mulata quero o teu amor”). Não esperava por essa pergunta. Na verdade, achei que não sairíamos de uma conversa nem tanto profícua. Foi um erro ter subestimado aquele grupo de leitores.
6. Valorizar o discurso do leitor;
Valorizar o discurso do leitor significa dar vazão ao que o leitor questiona. Bons professores incentivam o diálogo e o confronto de idéias. Maus professores apegam-se ao monólogo e ao conforto das idéias – estas, geralmente cristalizadas.
Tenho uma experiência curiosa para este assunto. Numa atividade de leitura que exerci com turmas da 3a idade, resolvi trabalhar a letra da música “O teu cabelo não nega”, de Lamartine Babo. Qual era minha intenção? O texto seria um pretexto para discutir tempos idos, reavivando-os para contrapor com o momento atual, de maneira bem simples, numa discussão nada complicada. Quando comecei a perguntar sobre as marchinhas e o carnaval daquela época, Dona Juraci, uma das alunas, interrompeu-me e perguntou se Lamartine não estaria sendo racista, comparando a cor da mulata com uma doença (“Mas como a cor não pega/Mulata/Mulata quero o teu amor”). Não esperava por essa pergunta. Na verdade, achei que não sairíamos de uma conversa nem tanto profícua. Foi um erro ter subestimado aquele grupo de leitores.
6. Valorizar o discurso do leitor;
Valorizar o discurso do leitor significa dar vazão ao que o leitor questiona. Bons professores incentivam o diálogo e o confronto de idéias. Maus professores apegam-se ao monólogo e ao conforto das idéias – estas, geralmente cristalizadas.
2 de fev. de 2005
Trabalho de leitura em sala de aula - parte III
2. Conhecer o texto e o autor a ser trabalhado;
Algo óbvio e nem sempre percebido. Trabalhar com um texto implica, em minha opinião, numa relação de prazer porque uma boa leitura é um ato de prazer. Se quem oferece um texto não tem esta relação, dificilmente passará para o outro a experiência de uma boa leitura. A intimidade resultante de uma boa leitura nunca é dada, ela é partilhada.
3. Criar expectativas de leitura;
É preciso ambientar o grupo para a leitura. Perguntar, conversar sobre algumas questões que estão pontuadas no texto antes da leitura, apresentar o autor... Nada que uma boa conversa não possa resolver.
4. Professor como mediador na relação texto/leitor;
Certa vez escrevi um artigo em que dizia que este era um trabalho de construtor de pontes: aproximar as distâncias entre o texto e o leitor. Quando preparo um texto, procuro marcar pequenos trechos que provoquem o debate, utilizando-os sempre que percebo a ausência das vozes do grupo leitor. Esta ausência, quando extensa, é um péssimo sinal para quem trabalha com a leitura. Significa que as tais distâncias podem ainda estar intactas, e, portanto, não há para o professor mediação alguma.
Algo óbvio e nem sempre percebido. Trabalhar com um texto implica, em minha opinião, numa relação de prazer porque uma boa leitura é um ato de prazer. Se quem oferece um texto não tem esta relação, dificilmente passará para o outro a experiência de uma boa leitura. A intimidade resultante de uma boa leitura nunca é dada, ela é partilhada.
3. Criar expectativas de leitura;
É preciso ambientar o grupo para a leitura. Perguntar, conversar sobre algumas questões que estão pontuadas no texto antes da leitura, apresentar o autor... Nada que uma boa conversa não possa resolver.
4. Professor como mediador na relação texto/leitor;
Certa vez escrevi um artigo em que dizia que este era um trabalho de construtor de pontes: aproximar as distâncias entre o texto e o leitor. Quando preparo um texto, procuro marcar pequenos trechos que provoquem o debate, utilizando-os sempre que percebo a ausência das vozes do grupo leitor. Esta ausência, quando extensa, é um péssimo sinal para quem trabalha com a leitura. Significa que as tais distâncias podem ainda estar intactas, e, portanto, não há para o professor mediação alguma.
31 de jan. de 2005
O bicheiro, o Secretário de Segurança e a novela
Acho que na sexta ou no sábado vi um capítulo da novela " Senhora do Destino", da Rede Globo, em que a personagem vivida por Débora Fallabela é seqüestrada. Os pais percebem o perigo, ligam para o noivo, encontram-se. Neste momento há um diálogo interessante. O pai pergunta para quem ele(o noivo) está ligando e diz que, se quiser, pode falar com o Secretário de Segurança do Estado. O rapaz diz que não precisa, está telefonando para uma outra pessoa que pode resolver o problema: o bicheiro, interpretado por José Wilker. Ocorre também uma outra cena bem interessante: a escola de samba precisa de penas importadas de avestruz que estão na Alfândega. Imediatamente o bicheiro liga pedindo para alguém que libere de imediato as tais penas. Perdeu-se a chance, óbvio, de mostrar o que fazer numa situação real de seqüestro-relâmpago. Fica caracterizado, sem nenhum espanto, o "pára-legal" que não é legal e nem ilegal, mas está à margem da Lei. Não sairemos tão cedo dessa situação, haja vista que, para estar em uma novela, é porque já está cristalizada, uma vez que a novela trabalha e reforça todos os preconceitos e neuroses da classe média, que perdeu, há muito tempo, a esperança no Estado, apelando para o que está à margem do poder, funcional e informal. Lembrou-me sobretudo de um livro que li há tempos: O jeitinho brasileiro, de Lívia Barbosa, da Ed. Campus, 1992. Riram de mim quando pedi por esse livro, mas ele existe. Fruto de uma tese de Doutorado, aborda o modus operandi do "jeitinho brasileiro" e do "Você sabe com quem está falando?" em nossa sociedade. É um livro maravilhoso, com prefácio de Roberto DaMatta.
30 de jan. de 2005
comercial de televisão X curta-metragem: salas de cinema
Qual a principal razão de encontrarmos comerciais de televisão no cinema, antecedendo aos filmes? As salas de cinema alegam que, com tal atitude, podem permanecer com os seus ingressos baixos. Baixos? Nunca saberemos se é verdade ou não. O comercial, além de nos dar a sensação de que ainda não saímos de casa para assistir a um filme, empobrece o espetáculo, pois naquele momento deveríamos assistir a um filme, (que poderia ser um curta-metragem ou média-metragem, não sei), afinal, fomos ao cinema. Quando era criança, lembro que em muitas salas passavam, além do famoso " canal 100", muitos curtas. A maioria era detestável, engraçado, mal feito. Mas era produção nacional, nosso produto. Hoje, melhorou bastante o nível, há muitos curtas premiados. Infelizmente, esses filmes vivem somente de festivais e boa parte do público não tem acesso. Ganham um prêmio e ficam guardados na lata. Talvez fosse o caso de voltar a essa prática: antes de um filme, um curta. De acordo com a faixa etária, claro. Quem vai ao cinema quer cinema, e não comercial de televisão. E mais não digo!
29 de jan. de 2005
Trabalho de leitura em sala de aula - parte II
Foi aí que resolvi apelar para essa mania de “mandamentos”. Não ultrapassei, chegando a onze ou doze (já não seria mais um decálogo), também não cheguei a dez.
Porém alcancei nove.
Não são regras fixas, mas observações (algumas óbvias, outras nem tanto) e estudos sobre uma forma mais eficaz para o trabalho com a leitura, seja para alunos do 1o Grau, do 2o Grau, universitários e, por que não?, companheiros de trabalho. A seguir, apresento as nove dicas, não sem antes de registrar um apelo que faço para o leitor deste artigo. Se acaso descobrir o 10o mandamento, por favor, não esqueça de avisar-me, pois ainda pretendo publicar algo como “Os Dez Mandamentos para o Trabalho com a Leitura”.
1. Conhecer a comunidade de leitores;
Grupos de leitores diferentes trazem embutidos diferenças sócio-históricas, criando perspectivas diferentes em relação à leitura de um mesmo texto. Perceber tais diferenças, mediante conhecimento prévio do grupo, é um dos primeiros passos para o trabalho de leitura.
Porém alcancei nove.
Não são regras fixas, mas observações (algumas óbvias, outras nem tanto) e estudos sobre uma forma mais eficaz para o trabalho com a leitura, seja para alunos do 1o Grau, do 2o Grau, universitários e, por que não?, companheiros de trabalho. A seguir, apresento as nove dicas, não sem antes de registrar um apelo que faço para o leitor deste artigo. Se acaso descobrir o 10o mandamento, por favor, não esqueça de avisar-me, pois ainda pretendo publicar algo como “Os Dez Mandamentos para o Trabalho com a Leitura”.
1. Conhecer a comunidade de leitores;
Grupos de leitores diferentes trazem embutidos diferenças sócio-históricas, criando perspectivas diferentes em relação à leitura de um mesmo texto. Perceber tais diferenças, mediante conhecimento prévio do grupo, é um dos primeiros passos para o trabalho de leitura.
28 de jan. de 2005
Trabalho de leitura em sala de aula - parte I
Escrevi em 1999, eu acho, um artigo sobre o trabalho com leitura em sala de aula. Em tempos de "revisão de textos", resolvi então colocar aqui.
Apologia para um decálogo
ou
algumas observações sobre a prática leitora em sala de aula
Em FEBEAPÁ 3 (Festival de besteiras que assola o País), uma série escrita por Sérgio Porto no final dos anos 60, cujo objetivo era registrar com bastante humor alguns dos principais acontecimentos da vida pública do país, há duas notícias, no mínimo, curiosas. A primeira trata-se do “decálogo do bom burguês”, do Senador Ermírio de Moraes, que recebeu um acréscimo da Tia Zulmira, uma das personagens criadas por Sérgio Porto, no que seria o 11o mandamento: “Para os Senadores, paciência”. A segunda notícia refere-se a um livro lido por Tia Zulmira (sempre ela), escrito por Miguel Santos, sobre Tiradentes. O autor apresenta o “Decálogo do Idealista” cujo nono mandamento é: “Assinar o ponto e trabalhar.” Brasileiro sempre teve mania por decálogos. Há para todos os assuntos, sendo possível encontrar no local de trabalho, nos bares e até na sala de aula, passando pela Igreja, claro.
Quando montei com um amigo um mini-curso cujo tema principal era o trabalho com a leitura em sala de aula, para a “ Semana de Educação”, na Faculdade de Pedagogia da UERJ, no segundo semestre de 98, ficamos bastante animados com o retorno junto aos participantes. Não esperávamos tamanha recepção, e um interesse cada vez maior sobre a leitura e o seu uso. Acreditei que deveria elaborar algumas dicas para dar uma nuance mais prática ao curso, e, assim, enriquecer o curso.
ou
algumas observações sobre a prática leitora em sala de aula
Em FEBEAPÁ 3 (Festival de besteiras que assola o País), uma série escrita por Sérgio Porto no final dos anos 60, cujo objetivo era registrar com bastante humor alguns dos principais acontecimentos da vida pública do país, há duas notícias, no mínimo, curiosas. A primeira trata-se do “decálogo do bom burguês”, do Senador Ermírio de Moraes, que recebeu um acréscimo da Tia Zulmira, uma das personagens criadas por Sérgio Porto, no que seria o 11o mandamento: “Para os Senadores, paciência”. A segunda notícia refere-se a um livro lido por Tia Zulmira (sempre ela), escrito por Miguel Santos, sobre Tiradentes. O autor apresenta o “Decálogo do Idealista” cujo nono mandamento é: “Assinar o ponto e trabalhar.” Brasileiro sempre teve mania por decálogos. Há para todos os assuntos, sendo possível encontrar no local de trabalho, nos bares e até na sala de aula, passando pela Igreja, claro.
Quando montei com um amigo um mini-curso cujo tema principal era o trabalho com a leitura em sala de aula, para a “ Semana de Educação”, na Faculdade de Pedagogia da UERJ, no segundo semestre de 98, ficamos bastante animados com o retorno junto aos participantes. Não esperávamos tamanha recepção, e um interesse cada vez maior sobre a leitura e o seu uso. Acreditei que deveria elaborar algumas dicas para dar uma nuance mais prática ao curso, e, assim, enriquecer o curso.
22 de jan. de 2005
O documentário da BBC - Nos passos de Alexandre
São dois DVD´s, totalizando quase quatro horas. Bem melhor e mais interessante que o filme em cartaz. Escrito e dirigido por Michael Wood, o documentário refaz a jornada de Alexandre nos dias atuais. Em todas as passagens, Wood reflete e tenta imaginar quais as sensações, medos e vitórias do imperador e seu exército. Há momentos brilhantes como a passagem pelo Irã, em que é possível conhecer um pouco o país, longe dos aitolás e do fanatismo divulgado pelo EUA, em que somos apresentados a um contador de histórias, apresentando uma outra versão de Alexandre, o Dêmonio, como é reconhecido por lá e em vários lugares. A passagem por Cabul, no Afeganistão, em que é possível ver a dor e a perplexidade diante de um museu histórico destruído, cujas peças estão reunidas, quebradas, misturadas em um quarto escondido. Todavia o mais instigante são as pessoas, as histórias, lendas e paisagens de um Oriente médio completamente desconhecido por nós. Está chovendo biografias no mercado sobre a vida de Alexandre. Interessa-me uma série, Alexandrós, quatro volumes, eu creio, de Valerio Massimo, pela Ediouro. Por que tanto o interesse? Trata-se de um mistura explosiva: juventude e poder, que sempre atrairam a curiosidade de muita gente.
Alexandre, O Grande - um filme perdido
Quem assistiu ao filme de Oliver Stone sabe que o diretor perdeu-se. Não sabemos se era para ser um épico, um drama, uma biografia, um filme de ação. A música, excelente, simplesmente não condizia com as cenas, havendo em vários momentos constrangimento e falta de sintonia. E os diálogos? A cena em que Aristóteles conversa com os alunos sobre o amor entre os homens, quando Felipe, pai de Alexandre, conversa com o filho, na caverna, sobre deuses e homens. Porém, infelizmente, boa parte dos diálogos desperdiçados, superficiais. Mesmo com um bom elenco o filme não emociona, ao contrário, é lento, cansativo. Anthony Hopkins, na pele do sábio e velho Ptolomeu, narrador do filme, honesto em seu trabalho, dá consistência ao personagem, porém, de novo, Stone ao final do filme aponta para todos os lados, demolindo e ao mesmo tempo construindo o mito Alexandre, como se estivesse pedindo desculpas por algum erro em sua narrativa, na voz de Ptolomeu. A batalha de Gaugamela, que selou o destina da Pérsia, deveria ser o grande momento, infelizmente não foi. O tempo todo procurou-se criar um triângulo entre Alexandre, sua mãe, a belíssima Angelina Jolie, que pouco envelheceu no filme, e Jared Leto, na pele de Hefestion, amante do jovem imperador. Quem conhece um pouco de História sabe que sua passagem por Siwa, no Egito, foi crucial, pois lá ele foi reconhecido como um deus vivo, o que deve ter alterado sua própria percepção e sentido da vida, sem contar a batalha citada poucas linhas acima. Fica para um próximo filme, quem sabe acertam.
20 de jan. de 2005
Alfabetização de jovens e adultos - EJA - parte V
Hoje tenho claro para mim que a relevância destes tópicos, para uma primeira reunião, foi desnecessária, haja vista a complexidade de certos temas relacionados à leitura, por exemplo. Muito mais fruto da pouca experiência acumulada no campo da alfabetização de jovens e adultos, foi, isto sim, uma superestimada parelha de idéias com as educadoras, de minha parte, no que concerne à natureza desse trabalho, o principal condutor das reuniões iniciais. Como será visto nas páginas subseqüentes, questões suscitadas por mim ramificaram-se em diversos problemas que necessitavam de um maior esclarecimento, debate, e o estabelecimento, ainda que não totalmente, de novos parâmetros para a atividade educacional proposta.
Logo após os seminários apresentados no Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro — ISERJ — em que se juntaram tanto educadores quanto orientadores, pouco antes das atividades em sala de aula, deparei-me com uma apreensão, de início, que transformou-se em temor, norteando todas as minhas mais sinceras expectativas em relação à primeira reunião. Percebi que havia um temor de raízes e matizes diferentes desdobrando-se em mim. O mais profundo talvez fosse o de ter minha orientação rejeitada e, o mais superficial talvez tivesse relacionado à minha postura, meus gestos, em relação ao grupo. Ainda hoje, não tenho claro para mim o mapeamento desses temores que se estampavam no suor frio de minhas mãos e no falar inconstante e, por vezes, incessante nas primeiras reuniões.
O resultado dos questionários levantados engendraram novas e boas expectativas que suplantaram o medo, hoje, infundado. As reuniões para mim foram tornando-se encontros e, a pesquisa que preparei foi um dos estopins para essa mudança.
Logo após os seminários apresentados no Instituto Superior de Educação do Estado do Rio de Janeiro — ISERJ — em que se juntaram tanto educadores quanto orientadores, pouco antes das atividades em sala de aula, deparei-me com uma apreensão, de início, que transformou-se em temor, norteando todas as minhas mais sinceras expectativas em relação à primeira reunião. Percebi que havia um temor de raízes e matizes diferentes desdobrando-se em mim. O mais profundo talvez fosse o de ter minha orientação rejeitada e, o mais superficial talvez tivesse relacionado à minha postura, meus gestos, em relação ao grupo. Ainda hoje, não tenho claro para mim o mapeamento desses temores que se estampavam no suor frio de minhas mãos e no falar inconstante e, por vezes, incessante nas primeiras reuniões.
O resultado dos questionários levantados engendraram novas e boas expectativas que suplantaram o medo, hoje, infundado. As reuniões para mim foram tornando-se encontros e, a pesquisa que preparei foi um dos estopins para essa mudança.
Alfabetização de jovens e adultos - EJA - parte IV
· Apresentação do grupo;
· Dúvidas (em geral, administrativas) das educadoras até a primeira reunião;
· Entrevista com a turma, como foi? ( algumas educadoras tinham recebido antes os questionários);
· Discussão sobre propostas de trabalho (projeto a longo prazo, temas p/ trabalho a curto e médio prazo, de acordo com a turma e a educadora);
· Importância da leitura de diversos tipos de textos em sala de aula, no início ou no final da aula, de preferência aqueles com os quais as educadoras tivessem mais intimidade, pois nem sempre é o texto que seduz o aluno, mas a intimidade que subjaz a leitura e explanação do texto, por parte da educadora;
· Importância de atividades que proporcionem trabalhos em grupo;
· Trabalhos com imagem;
· Leitura do texto do MOVA-Diadema que disserta sobre a metodologia de trabalho. Correlacionei, a partir dessa leitura, a necessidade de fazermos do texto um ponto de partida em sala de aula, e não um ponto de chegada;
· Necessidade de montar um grupo de estudo, na parte final da reunião.
· Dúvidas (em geral, administrativas) das educadoras até a primeira reunião;
· Entrevista com a turma, como foi? ( algumas educadoras tinham recebido antes os questionários);
· Discussão sobre propostas de trabalho (projeto a longo prazo, temas p/ trabalho a curto e médio prazo, de acordo com a turma e a educadora);
· Importância da leitura de diversos tipos de textos em sala de aula, no início ou no final da aula, de preferência aqueles com os quais as educadoras tivessem mais intimidade, pois nem sempre é o texto que seduz o aluno, mas a intimidade que subjaz a leitura e explanação do texto, por parte da educadora;
· Importância de atividades que proporcionem trabalhos em grupo;
· Trabalhos com imagem;
· Leitura do texto do MOVA-Diadema que disserta sobre a metodologia de trabalho. Correlacionei, a partir dessa leitura, a necessidade de fazermos do texto um ponto de partida em sala de aula, e não um ponto de chegada;
· Necessidade de montar um grupo de estudo, na parte final da reunião.
Alfabetização de jovens e adultos - EJA - parte III
Conversamos sobre nossas experiências com alfabetização e nossa iniciação no mundo das letras. Com isso, percebemos, juntos, que a alfabetização que queríamos era contrária ao de nosso passado — uma vez que muitas lembraram da alfabetização a partir de uma das famosas frases “Vovô viu a uva”. Disse também que não seria eu a tirar todas as dúvidas sobre o trabalho de alfabetização, mas o grupo. Por isso, pedia sempre para que alguém comentasse a resposta de uma outra educadora, por exemplo, achava importante a circularidade de idéias, dúvidas e comentários no grupo de trabalho. Para essa primeira reunião, listei uma seqüência de tópicos que julguei ser relevante, pois facilitariam a concatenação de minhas idéias. Eis, portanto:
Alfabetização de jovens e adultos - EJA - parte II
As salas de aula tinham vários pontos em comum. Todas eram salas pequenas, bem iluminadas, e com pouca ventilação, no que acarretaria sérios problemas nos períodos de calor. Nenhuma sala tinha vídeo e televisão. Em um dos casos, havia um corredor largo, no segundo andar de uma das associações de moradores, em que todos passavam, a todo instante e, que se configurava para os alunos e para a educadora, numa bela sala de aula muito bem cuidada, por sinal.
Pois bem, marquei a primeira reunião numa quinta-feira, dia 26. Pretendia iniciar com uma dinâmica de grupo. A idéia básica era falar sobre as nossas experiências com alfabetização e expectativas quanto ao trabalho que estava sendo iniciado. Eu formaria um círculo e com um rolo de barbante jogaria para alguma educadora, ela iria segurar uma ponta e o passaria, em seguida, para outra educadora, de modo que ao final, formaríamos uma rede com o barbante utilizado. Subjacente a isto, a partir desta rede tecida pelas educadoras, pretendia mostrar que não seria eu a tirar todas as dúvidas sobre a natureza desse trabalho, mas o grupo. Daria relevância à formação de um espírito de equipe nas primeiras reuniões, uma vez que todos nós não nos conhecíamos.
Contudo, este foi um propósito que não ocorreu ipsis litteris. Aquela semana tinha sido bastante atarefada para mim e, na pressa, não pude comprar o barbante. Portanto, a idéia de formarmos uma rede começava a ruir. Substituí por uma bola de tênis de mesa, pois bastaria apenas lançar um para o outro. Quem o recebesse faria uma sucinta apresentação. Ao deparar-me com o grupo, composto por algumas senhoras, percebi a confusão que se instalaria caso lançássemos a dita bolinha. E se ela fosse parar na rua? Estávamos numa das salas de alfabetização, no segundo andar, com uma enorme janela aberta para a rua. Era uma possibilidade. E se alguém não pudesse se abaixar para pegá-la? Os constrangimentos de um primeiro encontro não poderiam ser orquestrados por um arremesso mal-sucedido. Achei melhor sentarmo-nos em círculo e, iniciar a conversa.
Pois bem, marquei a primeira reunião numa quinta-feira, dia 26. Pretendia iniciar com uma dinâmica de grupo. A idéia básica era falar sobre as nossas experiências com alfabetização e expectativas quanto ao trabalho que estava sendo iniciado. Eu formaria um círculo e com um rolo de barbante jogaria para alguma educadora, ela iria segurar uma ponta e o passaria, em seguida, para outra educadora, de modo que ao final, formaríamos uma rede com o barbante utilizado. Subjacente a isto, a partir desta rede tecida pelas educadoras, pretendia mostrar que não seria eu a tirar todas as dúvidas sobre a natureza desse trabalho, mas o grupo. Daria relevância à formação de um espírito de equipe nas primeiras reuniões, uma vez que todos nós não nos conhecíamos.
Contudo, este foi um propósito que não ocorreu ipsis litteris. Aquela semana tinha sido bastante atarefada para mim e, na pressa, não pude comprar o barbante. Portanto, a idéia de formarmos uma rede começava a ruir. Substituí por uma bola de tênis de mesa, pois bastaria apenas lançar um para o outro. Quem o recebesse faria uma sucinta apresentação. Ao deparar-me com o grupo, composto por algumas senhoras, percebi a confusão que se instalaria caso lançássemos a dita bolinha. E se ela fosse parar na rua? Estávamos numa das salas de alfabetização, no segundo andar, com uma enorme janela aberta para a rua. Era uma possibilidade. E se alguém não pudesse se abaixar para pegá-la? Os constrangimentos de um primeiro encontro não poderiam ser orquestrados por um arremesso mal-sucedido. Achei melhor sentarmo-nos em círculo e, iniciar a conversa.
Alfabetização de jovens e adultos - EJA parte I
Em 1999 participei de um projeto de alfabetização de jovens e adultos promovido pelo Estado do Rio de Janeiro. Era o projeto MOVA, espalhado por boa parte do Estado. Acabei saindo em março de 2000, pois havia passado na PUC (iria fazer o mestrado), e achei melhor apenas estudar. Neste mesmo ano, resolvi escrever um pouco sobre minha passagem pelo projeto. Não saí do primeiro capítulo (rs). Como encontrei o arquivo, resolvi apresentar em pequenas partes.
O Primeiro Encontro
Ao receber a lista das entidades com as quais iria atuar, troquei alguns endereços com uma outra orientadora para facilitar o nosso trabalho criando, assim, áreas de melhor acesso para as nossas atividades. De início, fiquei com 14 turmas. Resolvi, antes de conhecer as turmas e as educadoras, montar dois questionários, um para as educadoras e outro para as turmas, para melhor traçar o perfil de ambas; pois pretendia a médio prazo sugerir projetos de escrita e leitura de acordo com o grau de inserção em letramento da educadora e a demanda, ou melhor, a necessidade de escrita e leitura, de cada turma. Para a elaboração destes formulários, apoiei-me no Guia do Educador, do Ação Educativa, para as turmas, e um questionário sobre leitura, oferecido pelo 12o COLE – 12o Congesso de Leitura, realizado na Unicamp, naquele mesmo ano, para as educadoras. Elaborei também um roteiro para o relatório a ser entregue pelas educadoras. Para tanto, utilizei-me de algumas idéias a partir do roteiro de atividades do projeto “Alfabetização Rede Brasil”. Neste roteiro, bastava escolher a atividade julgada por cada uma das educadoras como a mais interessante, pois assim haveria um mínimo de material suficiente para analisar o quê a educadora pensava a respeito de alfabetização e letramento, uma vez que não teria como analisar e discutir todas as atividades da semana, de todas as educadoras. Anexo a este roteiro, preparei um relatório que denominei de “plano semanal”. Neste, solicitava o resumo das atividades propostas nos dias daquela semana de trabalho. Preparei o material nos dias 11 e 12 de agosto(1999).
Iniciei as visitas, de fato, na semana de 16 de agosto (1999). Tive diversos problemas. Em sua maioria, as entidades não se encontravam perto do metrô, o que dificultava bastante a locomoção numa mesma noite para outro local de trabalho. A comunicação era bastante difícil, pois em alguns casos o telefone, sendo comunitário, estava quase sempre ocupado.
Ao receber a lista das entidades com as quais iria atuar, troquei alguns endereços com uma outra orientadora para facilitar o nosso trabalho criando, assim, áreas de melhor acesso para as nossas atividades. De início, fiquei com 14 turmas. Resolvi, antes de conhecer as turmas e as educadoras, montar dois questionários, um para as educadoras e outro para as turmas, para melhor traçar o perfil de ambas; pois pretendia a médio prazo sugerir projetos de escrita e leitura de acordo com o grau de inserção em letramento da educadora e a demanda, ou melhor, a necessidade de escrita e leitura, de cada turma. Para a elaboração destes formulários, apoiei-me no Guia do Educador, do Ação Educativa, para as turmas, e um questionário sobre leitura, oferecido pelo 12o COLE – 12o Congesso de Leitura, realizado na Unicamp, naquele mesmo ano, para as educadoras. Elaborei também um roteiro para o relatório a ser entregue pelas educadoras. Para tanto, utilizei-me de algumas idéias a partir do roteiro de atividades do projeto “Alfabetização Rede Brasil”. Neste roteiro, bastava escolher a atividade julgada por cada uma das educadoras como a mais interessante, pois assim haveria um mínimo de material suficiente para analisar o quê a educadora pensava a respeito de alfabetização e letramento, uma vez que não teria como analisar e discutir todas as atividades da semana, de todas as educadoras. Anexo a este roteiro, preparei um relatório que denominei de “plano semanal”. Neste, solicitava o resumo das atividades propostas nos dias daquela semana de trabalho. Preparei o material nos dias 11 e 12 de agosto(1999).
Iniciei as visitas, de fato, na semana de 16 de agosto (1999). Tive diversos problemas. Em sua maioria, as entidades não se encontravam perto do metrô, o que dificultava bastante a locomoção numa mesma noite para outro local de trabalho. A comunicação era bastante difícil, pois em alguns casos o telefone, sendo comunitário, estava quase sempre ocupado.
14 de jan. de 2005
Alguns tópicos para exame de programas como Repórter Cidadão, Brasil Urgente e Cidade Alerta
Três programas da TV aberta que buscam a audiência quase no mesmo horário de final de tarde: Repórter Cidadão, da Rede TV!, Cidade Alerta, da Rede Record e Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes. Tais programas versam sobre a violência como item principal, porém há algumas diferenças. Em todos esses, há o discurso jornalístico e o aparato tecnológico (helicóptero, cenário virtual, inserções ao vivo...) para fundar e legitimar um discurso popular de cunho violento, como se os âncoras, respectivamente, Ney Gonçalves, Wagner Montes e Datena, colocassem-se como porta-vozes das vítimas e oprimidos, ou seja, tudo gira em torno da legitimação de um discurso popular, e o jornalismo aparece como uma espécie de patamar. A sedução para tornar-se uma voz emblemática é muito forte para esses apresentadores. Cabe aqui um versículo famoso de Eclesiastes, Velho Testamento, da Bíblia: " Vaidade, vaidade, diz o pregador, tudo é vaidade". Trata-se de uma incongruência pois o discurso jornalístico, em princípio, baseia-se numa verdade científica (aquela que busca os fatos, respostas, examina evidências) enquanto o discurso popular baseia-se, em princípio, numa verdade popular ( não há exame de fatos, mas indagações calcadas na sabedoria popular). Para os dois programas, Repórter Cidadão e Brasil Urgente, ocorre tal desnível, uma fenda que os apresentadores precisam costurar ao longo do programa. Em Cidade Alerta, essa fenda é mascarada por um terceiro elemento que não é conjugado nos outros dois programas: o humor. Através do humor a violência, veio principal desse discurso popular, é mascarada e posta, muitas vezes, em um segundo plano, como uma segunda plataforma (como foi dito, a primeira seria o discurso jornalístico). Wagner Montes utiliza um bordão ao final de determinadas matérias, "Escraaaacha!" em que a própria câmera balança, simulando um terremoto ao ouvir esse brado retumbante, entre outras formas de achincalhe. O perigo, ao mascarar através do humor esse discurso popular, está na ampliação da faixa etária da audiência, tanto pra cima, os mais velhos, que reforçam seus preconceitos, quanto para baixo, os mais novos, esses, ainda com os seus valores em formação. O ocultamento dessa fenda pela produção de um discurso do humor também é muito perigoso porque legitima e alimenta a ação do próprio programa.
13 de jan. de 2005
Joaquim Nabuco, Bush: EUA continua sendo
George Bush, o Darth Vader de nossa era, não somente assumiu a mentira (a de que realmente não existe arma no Iraque) como também afirmou que faria tudo novamente. Sobre isso sempre tivemos certeza! Encerrou o ano de 2004 como personalidade do ano, pela Times, o que sugere, de fato, o apoio irrestrito de boa parte da mídia americana, e, pior, venceu as eleições para presidente com boa margem de vitória. Bush é a pontinha do iceberg, mas o que nos assusta é a base, a sociedade norte-americana, que o alçou para o topo do mundo. Pois bem, lembrei-me de um livro maravilhoso: Minha formação , de Joaquim Nabuco. Tal livro, uma espécie de autobiografia intelectual, é a reunião de vários artigos escritos no jornal Comércio de São Paulo e Revista Brasileira, por volta de 1893-99. Em um dos artigos, Nabuco faz uma análise dos EUA que permanece atual, o que me deixa bastante chocado, pois não percebo mudanças. Vou citar alguns trechos e recomendo, desde já o livro. É muito bem escrito, retrata um período do nosso Império e da sociedade brasileira de forma magnífica.
- "...é ele (os Estados Unidos), talvez, o país onde melhor se pode estudar a civilização material, onde o poder dinâmico ao serviço do homem parece maior e ao alcance de cada um. Em certo sentido pode-se dizer dele que é uma torre de Babel bem sucedida..."
- "... o governo na América é uma pura gestão de negócios, que se faz, mal ou bem, honesta ou desonestamente, com a tolerância e o conhecimento do grande capitalista que a delega."
- "... tratando-se do norte-americano, que a igualdade humana para ele fica dentro dos limites da raça... nunca ninguém convenceria o livre cidadão dos Estadso Unidos, como ele se chama, de que o seu vizinho do México ou de Cuba, ou os imigrantes analfabetos e os indigentes que ele repele dos seus portos, são seus iguais. Para com estes o seu sentimento de altivez converte-se no mais fundo desdém que ente humano possa sentir por outro."
11 de jan. de 2005
Filas de bancos, de supermercados, filas, filas...
Odeio filas. Porém algumas pessoas adoram, e são quase sempre aqueles chatos que entram na categoria de Guilherme de Figueiredo: "chato é aquele que rouba sua solidão". Não bastasse isso, o que por si só é muito, a luta agora é exigir o respeito para quem está na fila. Achei que fosse apenas um problema com a nova geração, desrespeitar fila, mas ocorre em todas as idades e gerações. As pessoas estão fingindo que existe uma fila e simplesmente invadem, principalmente fila de caixa eletrônico. Olham pro alto, pros lados, e , quando são chamados a atenção, retornam, alguns desgostosos, outros com raiva. Foi-se o tempo que o brasileiro era de fato cordial. Sérgio Buarque precisava rever essa tese, caso estivesse vivo. Arrisco-me a dizer que se trata de uma nova característica que está associada sem dúvida à mecanicidade dessa vida moderna. Coitado do Gérson, famoso jogador, que deu nome à famigerada "Lei de Gérson": ter vantagem, sempre.
Empréstimos, dívidas, empréstimos...
Está cada vez mais difícil caminhar na rua Dias da Cruz, no Méier (bairro que fica na zona norte da cidade do Rio de Janeiro). Aumentou o número de financeiras na rua e, consequentemente, vendedores loucos para atrair novos clientes, para novos empréstimos. Em alguns momentos é preciso fugir e dizer "não, não e não" porque o assédio é terrível. O que mais espanta são que essas lojas estão cheias de clientes, as pessoas estão se endividando a pleno vapor! Pior... Artistas populares como Netinho, Raul Gil e o ator Paulo Goulart incentivam o consumo desse tipo de serviço fazendo propaganda. Juros altos e consumo, juros altos e consumo... E o aumento de lojas como Fininvest demonstra que existe um mercado promissor. Famílias inteiras poderão ir à bancarrota em breve, pois trata-se de um barril sem fundo. Falta planejamento financeiro e, principalmente, controle no consumo.
10 de jan. de 2005
Comportamentos culturais: o cinema, definitivamente, em casa
A pirataria de filmes inovou. É cada vez mais difícil encontrar VCD, que tinha uma qualidade no mínimo duvidosa, e está cada vez mais fácil comprar DVD, com qualidade impecável. Um ingresso de cinema hoje custa em média R$14,00 (inteira). Uma cópia em DVD, R$15,00. Com a vulgarização do home theater, a tendência é convidar os amigos para uma sessão. Para que pagar por um ingresso quando pode ter uma fita por muito, muito tempo? E a questão ética, dirá o leitor. Bem... foi comprada por R$15,00 (rs)!
Provas e concursos públicos
Fiz uma nova prova para o magistério. E vou continuar fazendo mais e mais provas até garantir um bom emprego, que me dê segurança e estabilidade financeira. Aprendi muitas coisas ao longo do ano passado ao fazer provas para o concurso público. Não adianta estudar sozinho; é preciso fazer um curso em algum momento, para aprender as dicas, macetes; não conheci ninguém que passou em uma prova logo de primeira; é preciso conhecer a banca que elabora a prova e estudar a partir das provas; cada banca tem um modo diferente para elaborar; a prova é preparada para o candidato errar, não se tratar de aferir conhecimentos; conhecer a matéria é fundamental mas a chave é o controle emocional; só passa na prova quem controlar a ansiedade; vários fatores interferem: cansaço antes da prova, tempo da prova, medo de errar, número de candidatos; não dá pra manter a atenção seguidamente ao longo da resolução da prova: eu, por exemplo, numa prova de 60 questões, concentro-me nas dez primeiras, dou um tempo e marco no cartão de resposta, depois faço mais dez, seguindo o mesmo ritual... Para mim, o segredo é concentrar, relaxar, concentrar, relaxar... A crise no mercado de trabalho aumentou a procura por emprego público. Porém sempre houve a procura pelo funcionalismo público, herança, talvez, da cultura portuguesa. O que me espanta é que essa é uma prática que vem desde a época do Império, ou seja, mudamos mas não mudamos tanto...
3 de jan. de 2005
Leitura: formação de mercador consumidor
Sempre tive esta idéia: o que poderia melhorar o desempenho de nossos alunos na área da educação seriam as editoras desenvolverem estratégias para formação de mercado consumidor. Isso mesmo: formação de mercado consumidor. Grupo empresarial financiando grupos de contadores de histórias, venda de livros em diversos locais (supermercados, magazines, bancas de jornais, quiosques), livros com acabamentos e materiais mais baratos (tamanhos diferentes, tiragens menores), áudio-livros (em K7 e CD) para comunidades em que não houvesse entrada de texto escrito como em algumas cidades do interior do nordeste, por exemplo; nas escolas: formação de clubes do livro (lembro que na minha época a escola recebia a ciranda dos livros), cursos de atualização em literatura brasileira financiada por editoras, financiamento em pesquisas na área de Educação para desenvolvimento da leitura, horários em nas Rádios para audição de textos literários, concursos literários. Claro está que o governo deveria cumprir sua parte: menos impostos, desenvolvimento (em parceria) de plano estratégico para indústria dos livros ( que, aliás, começou na gestão de Carlos Lessa, no BNDES), desconto no imposto de renda para aquisição de livros por parte dos professores (como era antigamente). Hoje, é uma utopia, mas não quer dizer que amanhã não poderá... Ah! se tivéssemos um trabalho aplicado para uma geração inteira de leitores!
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